31 de agosto de 2008

Reforma (e Contra-Reforma)

Como vocês podem notar, o Pálido Ponto Branco passou por uma reforma. O visual mudou um pouco, alguns recursos foram adicionados, e o foco do blog tentou ser amplamente modificado.

Bem, algumas mudanças na substância vocês vão notar, mas toda reforma acaba encarando uma contra-reforma. Os luteros, calvinos e melanchthons da minha cabeça diziam que eu tinha de escrever sobre história e ciência, apenas. Martelaram tanto que, quando fui escrever o subtítulo do banner, milhões de neurônios jesuítas acordaram. E aí arte, futebol e F1 foram salvos da danação eterna.

O que vai mudar de fato é a organização. Alguns posts serão periódicos. O objetivo é tornar este blog menos pessoal e mais interessante para desconhecidos, mas não menos relevante para os amigos, que são a alma deste troço.

27 de agosto de 2008

Lamoterapia selvagem

Ok, enquanto o Pálido não vira outra coisa, fiquem com Xico Sá, que usa William Blake pra terminar em Wander Wildner. Se "só o caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria" - como disse o velho místico inglês - então SÓ A LAMA CURA!:

Leve a sua dor para as ruas, seus bares/seus mares, nade com ela no seco por debaixo das mesas, exponha-se, seja a vitrine de suas próprias escoriações, não se envergonhe, molhe o ombro do garçom amigo, derrame uma para o santo e entorne a próxima bagaceira com gosto de sangue e luto.

Esqueça a água imantada da jarra azul, o psiquiatra, o vidrinho dinamizado à milésima potência, o gingko biloba e o acupunturista da esquina: só a lama cura. Se for a metafórica, melhor ainda. E se for guerra de lama metafórica, aí o efeito é imediato.

Eu garanto.

23 de agosto de 2008

O cerne

Este blog vai deixar de ser o que era pra ser o que sempre deveria ter sido. Um blog de história, ciência, e história da ciência. Alguns pitacos sobre baboseiras mil ainda estarão presentes, mas não serão o foco. Aliás, quê foco?

Foco. Ir ao que interessa. A vida é curta, os interesses são muitos, mas poucas são as coisas realmente relevantes que a gente tem pra dizer ao mundo. Espero acertar na escolha.

Um abraço, um forte abraço, a todos os 17 milhões de leitores que passam por aqui todos os dias.

21 de agosto de 2008

Costanza pede uma mãozinha para Seinfeld

A Microsoft vai descarregar um caminhão de dinheiro na porta de Jerry Seinfeld para tê-lo ao lado de Bill Gates numa campanha publicitária que visa contra-atacar uma recente bem-humorada série de comerciais da Apple que retrata o PC/Windows como um cara antiquado, quadrado, lento e frágil, frente a um moderno, descolado, ágil e criativo Mac. A campanha da Apple é sensacional. Destaque para o bloco em que o Mac se entende perfeitamente com uma "câmera digital" japonesa:




Pode-se esperar algo na mesma moeda com Seinfeld. Faz tempo que ele não faz algo bom. Isso quando faz algo. Tudo o que fez por anos depois de encher o rabo de dinheiro e acabar com sua sitcom foi "nada, absolutamente nada", como fazia questão de dizer orgulhosamente (para a gargalhada geral). Bee Movie (em que Jerry dubla a abelha protagonista) não passou de um fiasco. Tomara que seja o início da volta de Jerry Seinfeld, o das situações geniais e do timing perfeito. Como num especial de 98, pouco depois do final da sitcom, em que apresentou pela última vez sua rotina de piadas. É uma hora de stand-up, mas o tempo parece voar. O vídeo está legendado e separado em 8 episódios (contando com uma introdução de 5 minutos - agradecimentos ao brenorgs do youtube!). A versão em boa qualidade (bem como as legendas) você pode achar por aí nas boas casas de torrent do ramo. Ah, o vídeo está em playlist aí embaixo, então dá pra selecionar os capítulos sossegadamente. Bons risos.




Aguardemos, portanto, as peças da MS. Se bem que o PC está realmente mais pra George Costanza do que pra Jerry. Eu só não tenho um Mac porque é caro demais.

20 de agosto de 2008

Don´t laugh on me, Argentina

Leia o trecho a seguir e responda:

"sabemos como eles são quando estão perdendo, sempre aparece a perna forte, a patada. Mas já passou, obviamente ninguém gosta de perder, te dá impotência e isso te leva a bater."

Quem proferiu essas palavras?

a) um jogador brasileiro, sobre jogadores argentinos

b) um jogador argentino, sobre jogadores brasileiros

Desde sempre aprendi, seja por comentários de sofá do meu pai e do meu tio, seja por comentários do pessoal que narra jogos para a TV, que os argentinos eram desleais, só jogavam na defesa, não sabiam perder, e batiam. Muito. Todo mundo também deve ter aprendido o mesmo. Fossem outros tempos, responderíamos com a letra "a", pouco percebendo o quanto havia de xenofobia em nossa resposta.

Mas o que vimos ontem foi a essência do dunguismo e a resposta só pode ser a "b", portanto. O jogador argentino é Javier Mascherano (que também bate bastante, convenhamos) em entrevista para o Terra. Quando perguntado se ficou surpreso com a performance pífia da seleção brasileira, respondeu na lata e com toda a razão: "o Brasil vem sendo isso. O bom é que nós dissemos isso antes da partida. Tínhamos claro que o plantel deles era limitado, bastante defensivo. E ontem foi possível notar que estávamos certos, que vemos bem o futebol." E completou: "o Brasil já faz um tempo que não vem respeitando muito sua história".

Depende, Mascherano. Se você quis dizer que o Brasil não respeita o fio de sua história que une Garrincha, Pelé, Rivellino, Zico, Sócrates, Romário, Ronaldinho Gaúcho, e tantos outros jedis da pelota, acho que é inevitável concordar com você. Mas se o fio for outro, o do lado negro, então você está enganado. Este é o fio que tem na figura de Zagallo seu Darth Vader e que culminou na trágica vingança dos sith na Copa de 1994, quando, segundo o Xico Sá, foi criado o dunguismo que hoje nos causa tanta agonia. Desse jeito, o Brasil está seguindo sim uma boa parte de sua história. Darth Parreira começou com um trabalho esplendoroso na Copa de 2006, quando jogou no lixo a melhor geração brasileira desde 82, e agora Darth Dunga está levando em frente o sabre vermelho da retranca sem imaginação.

Por falar em 82, Zico tinha razão: foi na derrota de 82 que toda essa pataquada defensiva opaca começou no Brasil. Mas isso não é desculpa. A Argentina passou por algo mais ou menos semelhante em 2002. Tinha um time fantástico, montado por Marcelo Bielsa. Foi ali que comecei a notar que a Argentina estava ocupada em jogar futebol, diferente dos nossos amarelinhos. O time de El Loco Bielsa passeou nas eliminatórias e chegou à Copa como clara favorita. Caiu num grupo terrivelmente difícil, bobeou e inesperadamente caiu na primeira fase. Quem foi campeão, todo mundo sabe, foi o Brasil improvisado de Felipão. Agora, perguntem se os argentinos desistiram. Perguntem se chegaram à Alemanha, em 2006, dispostos a ganhar sem jogar futebol de verdade. Perguntem se eles desistiram de jogar mesmo após montarem outro time maravilhoso e perderem a Copa América em 2007 para o Brasil dunguista.

Realmente, eles são melhores do que nós. E não é de hoje. Concordo com o Idelber.

Na sombra

Leroi Moore, o óculos e o saxofone

Fui dar uma checada de praxe na DMBrasil.net, o maior e melhor site brasileiro sobre a DMB, e para minha triste surpresa descobri que Leroi Moore, o saxofonista da banda, morreu ontem, dia 19 de agosto.

Leroi havia sofrido um acidente com um quadriciclo em julho e estava começando o processo de recuperação física. Sua morte ainda não foi completamente esclarecida, mas provavelmente está relacionada ao acidente. Tinha 46 anos.

Leroi Moore era do tipo que quase não aparece no palco. Ficava sempre no extremo canto direito, meio na penumbra, de óculos escuros. Sua especialidade era o sax, mas também deixava as músicas da DMB mais coloridas com flauta e até pennywhistle. Era sempre sutil, sem estardalhaços, seja num solo, seja ao encaixar uma frase de maneira a pensarmos que ela deveria estar sempre ali.

Ele não viria ao Brasil. Mesmo assim, ainda é difícil prever se a banda vai cancelar ou adiar os shows por aqui. Tomara que não.

Dê um tempo, aproveite a hora do almoço, aumente o som, dê um play aí embaixo e ganhe dez minutos de vida com #41. Leroi no sax, na flauta, e no sax de novo.





Obrigado por estas e tantas outras, Leroi.

Banda do Davi Mateus no Brasil!

Tá certo, a notícia vem com alguns dias de atraso, mas quê importa?

Importa é que a Dave Matthews Band confirmou as datas para tocar aqui no Brasil! 26/9 em Manaus, 28/9 em São Paulo e 30/8 no Rio. 

Tenho sonhado com isso desde 2001.

Será que eu vou ver The Stone ao vivo?



PS: Agora só falta o Radiohead.

15 de agosto de 2008

Crush me

Música, porque hoje é sexta e a DMB deve vir pro Brasil este ano!



Let´s go drive till the morning comes
And watch the sunrise
And fill our souls up
Drink some wine till
We get drunk, yeaaaahhh
It´s crazy, I´m thinking
Just knowing that the world is round.........................

12 de agosto de 2008

A verdade está lá fora

A Globo está passando Guerra dos Mundos. Enquanto os ETs invadem o planeta e vaporizam bilhões, Michael Phelps já bateu um recorde mundial, levou mais uma de ouro pra casa e na semi dos 200m borboleta decidiu nadar só nos últimos 50m. Estava meio corpo atrás, chegou com um corpo na frente.

Será mera coincidência? Ou há alguma conexão aí? Será que o Phelps...? Será que...?

Hein?

Ok, nevermind...

9 de agosto de 2008

Do olímpico desprezo pelo interesse público

Quando a Taça Libertadores deste ano começou a chegar em sua fase decisiva, Fluminense e São Paulo se enfrentaram pelas quartas-de-final. Os jogos ocorreram nos dias 14 e 21 de maio. Para o dia 21, outro jogo de destaque (um pouco menor, diga-se) estava marcado: era uma das semi-finais da Copa do Brasil, que seria disputada entre Botafogo e Corinthians. A Globo tinha a exclusividade de exibição da Libertadores mas havia vendido os direitos de transmissão (mas não a exclusividade) da Copa do Brasil para a Bandeirantes. Como a coincidência de datas entre a segunda perna da Libertadores e a primeira da Copa do Brasil poderia significar perda de audiência para a Globo (já que os corintianos provavelmente migrariam para a Band), a emissora oficial da nação conseguiu que a CBF mudasse a data da semi-final, antecipando-a em um dia. A Band, com isso, não pôde exibir o evento que comprou, e do alto de sua magnânima bondade a Globo disponibilizou o sinal do segundo jogo entre Flu e São Paulo pela Libertadores para compensar a perda da concorrente. Obviamente prejudicados, os corintianos festejariam uma semana depois a decisão da Globo em transmitir para o estado de São Paulo o segundo jogo entre Bota e Corinthians em detrimento da exibição da primeira semi-final entre Boca e Flu, um jogo claramente de maior interesse geral.

O abuso em nome de interesses mercadológicos e o desprezo pelo interesse público continuariam.

O Corinthians se classificou para a final da Copa do Brasil contra o Sport Recife. O primeiro jogo da final coincidiu com o épico segundo jogo entre Flu e Boca no Maracanã e, pra variar, a Globo preferiu privilegiar uma única torcida do estado paulista em detrimento do interesse geral em torno de uma semi-final de peso do segundo mais importante torneio continental do mundo.

Até aí, tudo bem. Quer dizer, tudo bem nada, mas é compreensível em face da audiência gerada pelo Corinthians num jogo importante, não tão importante quanto uma semi de Libertadores com um time brasileiro e o Boca na parada, mas ainda assim, importante.

O que aconteceu em seguida ultrapassou os limites do compreensível.

O primeiro jogo da final da Libertadores entre Flu e LDU estava marcado para o dia 25 de junho. Finalmente, nós paulistas não-corintianos teríamos a oportunidade de ver um jogo que realmente interessasse. Ledo engano. O Corinthians tinha um compromisso contra o Bragantino pela segundona do Brasileiro marcado, desde o Paleolítico, para o dia 24. Inacreditavelmente, a Globo usou novamente sua força na CBF para mudar a data deste jogo, remarcando-o para o mesmo dia 25, no mesmo horário, da final do Flu. E nós, de São Paulo, tivemos que engolir a seco o mais do que xoxo 1 a 1 entre os dois times da série B, enquanto a LDU enfiava 4 a 2 numa ótima final contra o Fluminense.

Ora, a Globo só transmite seu sinal por obra de uma concessão pública. Se a emissora compra os direitos de transmissão de um evento como a Taça Libertadores com exclusividade, compra também a responsabilidade pública de exibir para todo o país os jogos mais importantes do torneio que pelo menos contem com a participação de algum time brasileiro. Em vez disso, sob a justificativa de atender à demanda comercial de uma única torcida de São Paulo (a maior delas, mas que está longe de constituir a maioria do público), exibiu um jogo da segunda divisão.

É óbvio que a Globo não vê qualquer responsabilidade pública naquilo que transmite. Está defecando e caminhando e assobiando para o interesse público como se nada fosse. Se a Globo é capaz de troçar da sociedade com tamanha indiferença quando a questão é futebol, imaginem o estrago que ela pode causar quando o assunto é mais "sério". Não precisa ir muito longe: em 2006, às vésperas das eleições presidenciais, o Jornal Nacional ignorou propositalmente o acidente do avião da Gol para dar livre curso e amplo destaque às denúncias de uma suposta compra de dossiê, por parte de petistas, contra políticos tucanos (dêem um pulo aqui e aqui). Então, qual é a responsabilidade pública de um departamento de jornalismo de um órgão que opera por concessão pública? Noticiar uma tragédia grave ou ignorá-la pelo bem do ritmo e dramaticidade de um script muito bem ensaiado contra inimigos políticos?

Bem, eu achei que esse tipo de desrespeito ao interesse público só acontecia por obra de redes de TV que exercem um domínio nacional amplo e sem concorrência. Nos Estados Unidos, a terra em que a audiência é disputada como uma zebra morta por leões famintos, não existe esse tipo de descaso, existe?

Pois leiam o que me escreveu um amigo que está neste momento em Richmond, Virginia, USA. Justo ele, David, o corintiano que tirava um pêlo da minha indignação anti-corintiana e anti-global, me mandou o seguinte e-mail indignado na hora do almoço:

Hoje acordei mais cedo em plena sexta-feira simplesmente pelo fato de
querer acompanhar a abertura dos jogos olímpicos ao vivo pela televisão. Cheio
de ramela ainda nos zóio, liguei a tv e comecei a buscar por 1 dentre os mais de
400 canais de TV que a operadora Comcast provê. Os primeiros canais são de
esporte e então seria batata encontrar e não iria acabar com as pontas dos meus
dedos no botão do controle. Doce ilusão... Troquei os canais até que cheguei nos
canais de filmes e continuava a pensar: "Não, acho que não são tão egocêntricos
assim... são mais de 4 BILHÕES de telespectadores no mundo todo". Foi quando
cheguei nos canas em HD, onde os canais passam a ser repetidos, porém em alta
definição. Pensei comigo mesmo, "Vai que... ?", então tentei todos eles
também... A ilusão ficou mais doce ainda. Fui no banheiro dar aquele tapa
na cerâmica, tomei um banho, vim pro trabalho e ainda estando inquieto com o
fato dos EUA não transmitirem ao vivo a cerimônia, resolvi procurar na net. Se
existe uma dúvida, Google it! Foi o que fiz e constatei uma triste realidade do
sonho americano: a maldita NBC detêm os direitos de transmissão e pelo fato
de 8 PM em Beijing ser 8 AM Eastern Daylight Time (EDT), horário 'não' nobre, a
emissora decidiu transmitir a abertura apenas às 8 PM EDT e minha "indignância
se elevou-se" pela arrogância e descaso com "apenas" a cerimônia de abertura
das olimpíadas.

Detalhe, agora estou 'acompanhando' a abertura pela Rádio Jovem Pan On Line
do Brasil.



E David completa com trechos de um fórum de discussão ianque:


Open Questions
"Will the opening ceremony be broadcast live on any US television stations?
How about the Internet?I only see reference to a tape delayed ceremony airing on
NBC prime-time friday night. I'm wanting to watch it live, if possible."
(Ken)

Answers
"Where have you been? China is a day ahead of us so no they will not be
live. The opening ceremonies will be taped live and shown tomorrow on NBC at
7:30 P.M." (sis74100)

"As an expat living in Canada, the Olympics are being broadcasted live by
the CBC. Just another reason to live up north, live olympic coverage."
(lfwh3)


Como diria o meu amigo, ou melhor, James Hetfield: sad but true.

O capitalismo das corporações selvagens é uma merda.

8 de agosto de 2008

Onde está você no compasso político?

No Biscoito Fino, uma dica divertida: The Political Compass. Você responde a algumas perguntas sobre os mais variados assuntos (economia, política, educação, aborto, sexo, pena de morte, etc.) e, ao final, o site localiza você num gráfico com dois eixos: na vertical, libertário/autoritário, e na horizontal, esquerda/direita. A justificativa do site é que o espectro que opõe esquerda e direita não dá conta de explicar as diferenças políticas. "Não é suficiente dizer que Stalin estava simplesmente mais à esquerda do que Gandhi", diz a página inicial.

Tudo bem, a estrutura do teste é um tanto parecida com aqueles testes de revista Cláudia, Nova, "saiba se ele está te traindo", "saiba se ele é sua alma gêmea", essas merdas. Mas é irresistível. Eu respondi às perguntas e meu resultado foi esse aí embaixo, o que espantosamente me revelou um esquerdista libertário. Que novidade!


Economic Left/Right: -7.12
Social Libertarian/Authoritarian: -8.41



Se você tiver 10 minutos pra torrar nesta sexta-teira nublada, responda às perguntas. E deixe seu resultado aqui na caixa de comentário. Morro de curiosidade pra saber onde é que algumas pessoas seriam localizadas nesse gráfico. Só não vale ficar competindo pra ver quem é o mais esquerdista libertário!


Edit: a Vanessa respondeu às mesmas questões e seu resultado foi tão libertário quanto o meu, mas um pouco menos de esquerda:



Tudo mais ou menos nos conformes, pelo menos no campo das representações.

Aliás, queria ver onde a esquerda do Sasqua iria parar. A do Luis seria, claro, off the charts! Jácamo cairia, óbvio, nos azurzinhos, enquanto Juliano estaria radicalmente no centro. Já Joãozinho Jocoso é uma incógnita. E Duilio preferiria responder a questões sobre Tekken e WoW.

3 de agosto de 2008

Mousse

Logo abaixo, em boa qualidade, as três primeiras músicas do show do Muse em São Paulo. Na ordem: Knights of Cydonia, Hysteria e, claro, Bliss.





2 de agosto de 2008

space dementia geral


E o Muse veio, tocou uma hora e meia bem na nossa cara, e foi-se embora.

Há muito uma banda acostumada a lidar com públicos gigantes na Europa, onde lota estádios e arenas de grande porte, o Muse enfrentou uma platéia bem menor numa casa de médio pra pequeno porte em São Paulo, o HSBC Brasil. Foi exatamente isso que, talvez, tenha transformado uma apresentação de rotina numa noite inesquecível.

Houve apenas duas surpresas num setlist já esperado, uma versão um pouco menor do lançamento que eles vieram promover, o HAARP, gravação de um show no novíssimo e sofisticado estádio Wembley. Diferente daquele show em Londres, a produção foi enxutíssima. Só havia um telão atrás do palco, que exibia ótimas viagens psicodélicas fielmente sintonizadas com cada música. E uma ou outra explosão de gelo seco (foi o que me pareceu... aliás, isso existe?). Fora isso, não aconteceu nada que desviasse a atenção do público da música e da banda.

A noite começou com Jay Vaquer. Não sei se é assim que se escreve o nome do cara (pouco importa), um sujeito meio mala que dá nome e até consegue estragar uma banda que é boa, principalmente pelo batera. A abertura correu normalmente, sem aquele tipo de manifestação de repulsa por parte do público, o usual num show de metal - mas afinal aquilo não era um show de metal e o público era outro, talvez um pouco menos religioso. A maioria do público, aliás, parecia ter saído de uma boutique que vendia um "uniforme básico de fã do Muse", sem mencionar os cabelinhos meticulosamente bagunçados.

Enfim, estávamos lá pra ver o Muse e não seus fãs padronizados. (Um ou outro trintão, quarentão ou cinquentão ali nas cadeiras conosco aliviava um pouco a nossa sensação de peixes fora d´água.) Às dez e meia (pouquíssimo atraso, portanto... ei, trata-se de uma banda inglesa, oras!) as luzes se apagaram e a intro instrumental do HAARP começou a soar. O trio então entrou no palco (na verdade, um quarteto, pois um cara fica encarregado de acompanhar a banda com a parte eletrônica do som) e os primeiros acordes de Knights of Cydonia aparecem, como todo mundo já sabia. O som estava ótimo e alto, tudo perfeitamente audível, e a banda estava tocando logo ali embaixo dos nossos narizes. A perfeição e previsibilidade com que tocaram as duas primeiras músicas dava a sensação de estarmos assistindo um DVD ali na nossa frente, algo que só foi quebrado com uma grande surpresa. Enquanto prevíamos a terceira música (se tudo saísse conforme o HAARP), Bliss começou a ser tocada. Sim, Bliss! Bliss! Desde que compramos o ingresso eu sabia que eles não tocariam Bliss, uma das favoritas. No caminho para o show, fiz questão de lamentar que não veríamos Bliss ao vivo, já que fazia tanto tempo que não a tocavam. Mas ali estava o Muse, e ali estava Bliss. Foi quando caiu a ficha de que tudo estava acontecendo naquele momento.

Das restantes 12 músicas do setlist, apenas uma parecia não estar no script, Citizen Erased, mais uma sensacional que, como Bliss, vem do Origin of Symmetry, álbum de 2001. Apenas uma, também, me soou dispensável: Invincible, do último álbum, a única em que um ponto negativo da banda, a canastrice, parece fora de controle. Ainda bem que Invincible foi logo engolida pela autenticidade da avalanche de New Born, Plug-in Baby e Time is Running Out, em sequência. Foram 15 minutos absolutamente memoráveis.

O que impressiona num show do Muse é que, apesar de todo o profissionalismo, a perfeição sonora, a execução meticulosa das músicas, a quase inexistente troca de palavras com o público e o setlist quase completamente previsível, a banda transpira paixão no que toca e consegue transmitir a empolgação para o público, que devolve na mesma moeda. A sensação de ouvir Matthew Bellamy e mais de três mil pessoas cantando em uníssono num lugar pequeno cada uma das 15 músicas foi arrepiante e quase surreal. No final, junto com sensação de que afinal havíamos visto Muse ao vivo, ficou apenas uma ponta de desgosto: esses ingleses baixinhos de meia tigela demoram 10 anos pra virem pro Brasil e tocam só uma hora e meia? Por quê não tocaram Space Dementia? Quem eles pensam que são?

De onde você vem?