25 de setembro de 2009

O Pelé já está de olho

Segundo reportagem de Eduardo Arruda na Folha de hoje, o governo federal pretende criar um benefício previdenciário para os jogadores de futebol campeões em Copas do Mundo. O valor será, aproximadamente, de dez salários mínimos (teto da previdência) e beneficiará, de início, os ex-jogadores (e famílias) da Copa de 1958. Discute-se se o benefício poderá ser dado no cinquentenário de cada conquista.

Se for verdade, é uma das piores decisões de Lula nos seus quase oito anos de mandato – dessas que decepcionam profundamente. Quase gratuitamente, o governo arranha sua bem construida imagem de responsabilidade no trato com a coisa pública e dá de bandeja uma oportunidade para que tucanos e democratas (sic) bradem a plenos pulmões que o governo é assistencialista, que o estado está virando um elefante, enfim, que entoem em coro a cantilena liberal que todo mundo conhece bem.

Seja você liberal ou não, deve-se reconhecer que a coisa é um disparate. Tem que haver um bom motivo pra engordar os gastos da previdência social. Muita gente pode argumentar, com razão, que ganhar uma Copa do Mundo não torna esses cidadãos mais especiais do que o meu ou o seu avô. Não perante o estado. Não para receber uma polpuda aposentadoria enquanto a maior parte dos velhinhos vive com a miséria de um salário mínimo.

O problema, contudo, não é tão simples.

O futebol está profundamente enraizado na cultura brasileira e, por isso, não se deve subestimar o valor que os grandes jogadores têm para boa parte da nossa população. Isso basta para rebater quem venha com o argumento preconceituoso de que esses cidadãos foram apenas jogadores de futebol. Aliás, não vou ficar repetindo velhos bordões – verdadeiros, é verdade – sobre o fato de que o futebol move e comove milhões, que seus herois são herois de fato pois povoam o nosso imaginário, brilham em nossos sonhos, nos dão 90 minutos de sentido e costumam tornar essa nossa existência sem nexo em algo tolerável. De fato, muitos ídolos que viveram o auge esportivo numa época em que o futebol não era sinônimo de milhões na conta bancária merecem ter cuidados e consideração social que não vêm recebendo. Não devem ser jogados às traças, esquecidos, experimentando a decadência física, o ocaso da vida, ao mesmo tempo em que testemunham o esquecimento de quem são, de quem foram, de como gostariam de ser lembrados. É uma dupla morte. Se temos alguma consideração por essas pessoas, precisamos evitar que isso ocorra.

O que torna esse benefício um verdadeiro absurdo, no entanto, não é apenas o fato de que o estado está assumindo para si uma atribuição que deve ser da sociedade (cuidar de seus herois). Mais do que uma categoria privilegiada de cidadãos, o estado está criando uma categoria privilegiada de herois. A começar dentro do próprio futebol: o que dizer de todos aqueles craques que marcaram a história do futebol brasileiro mas que - por ironias do destino que a seleção de 1982 conhece muito bem - não conseguiram conquistar aquele pequeno torneio de meia dúzia de jogos? Nessa categoria temos lendas como Domingos da Guia e Leônidas da Silva. O que dizer de Canhoteiro e Julinho Botelho, craques que não acabaram indo para a Suécia em 58? As famílias dessas pessoas, mencionadas no mesmíssimo fôlego dos campeões daquela Copa, não merecem o mesmo benefício do estado, caso seja concedido? O que dizer, então, de outros esportistas historicamente importantes? Maria Esther Bueno, a família de João do Pulo e de Adhemar Ferreira da Silva também devem receber uma aposentadoria? Por que não, então, amparar também antigos artistas esquecidos? É óbvio que não estou defendendo que o estado deveria amparar todo ex-boleiro ou esportista ou artista abandonado. É o contrário.

Que se traga para discussão o desamparo, ótimo. Que se chame a atenção para esse problema, que o estado tome iniciativas para ajudar a lembrar dos herois esquecidos e tome parte em campanhas para arrecadar ajuda, nada a reclamar. Que o estado chame para si toda essa responsabilidade, e arcando com ela com o meu e o seu dinheiro, isso é censurável. Que se transforme esse dinheiro, pelo menos, em Bolsa Família.

Se esse tipo de coisa passar, imagine você, em 2044 vamos começar a sustentar o Mauro Silva, o Dunga, o Jorginho, o Mazinho, o Taffarel. Ah, não! Seria melhor dar toda a grana pro Baggio, logo.

17 de setembro de 2009

O narcisismo, por Contardo Calligaris

Contardo Calligaris na Folha de hoje (continua aberta a nova versão digital do jornal):

[…] o uso do não e do sim permitem o diálogo humano. Mas é um diálogo que (sejamos otimistas) nem sempre tem a ver com as questões que estão sendo discutidas: ele tem mais a ver com uma necessidade subjetiva: digo “não” para me separar do outro ou digo “sim” para obter dele um olhar agradecido. Nos dois casos, tento apenas alimentar a ilusão de que existo.

14 de setembro de 2009

Beirut, 11/9

Acho que eu nunca assisti a um show com um sorriso tão grande no rosto.

8 de setembro de 2009

Besta

Why do we always talk about things like this
Why do we always haunt each other down
Why do we always smoke those cigarettes
And drink a lot of wine
I know the kind of beast that Ive become
I know I dont always show my gratitude
I dont always shut it when Im spoken to
And I dont understand the things that you say. Anymore
I know it doesnt show that I love you
I know that I dont always like when children laugh
And I dont give a damn about your 14 year old
But who am I trying to fool by acting this way
I need a lot of wine
I know the kind of beast that Ive become

Nina Kinert, Beast

7 de setembro de 2009

Mês 9

Setembro está um prato cheio pra quem gosta de sci-fi: 9 e District 9.

Enquanto os filmes não chegam por aqui, o Hermenauta chamou a atenção para a relação entre AI e dilemas morais inspirado no que deve vir com 9, do Tim Burton; no Primate Diaries, tem uma bem escrita análise antropológica sobre District 9, que deve ser um filmaço.

De onde você vem?