1 de agosto de 2014

Gaza

A qualquer momento
O crânio aberto
O rosto desfigurado
O intestino na calçada
A qualquer momento
O tórax espatifado
A metade carbonizada
No carro carbonizado
Dentes brancos
A qualquer hora
A cabeça decepada
A perna retorcida
O joelho pra um lado
O pé para o outro
A qualquer momento
A mão intacta
Que fazia e criava
Morta
Num minuto qualquer
Uma mão
Só a mão
No pé da escada
No canto do quarto
No meio da rua
No capô do carro
No meio da rua
Sangue
Jorrado
Espirrado
Vermelho
De criança
Na parede
No teto
No poste
No meio da rua
A qualquer hora
Por todos os lados

23 de junho de 2014

Searching for Sugar Man

Acabei de ver o documentário Searching for Sugar Man. O filme retrata brilhantemente, quase como um thriller investigativo, uma das histórias mais sensacionais da música contemporânea: a de Sixto Rodriguez, uma espécie de Dylan mexicano que gravou dois discos no início dos anos 70 em Detroit. Destinados à mais completa obscuridade nos EUA, os discos fizeram um sucesso enorme na África do Sul (e só lá), na mesma época.

Mais tarde, alguns sulafricanos se surpreenderiam ao saber que o artista é um desconhecido na América. Dois deles tentaram, nos anos 90, saber mais sobre Rodriguez. Eles não tinham mais nenhuma informação sobre o músico além de um nome, uma foto na capa, e histórias desencontradas sobre sua morte.

Qualquer coisa que eu diga além disso será, fatalmente, um baita spoiler. A única coisa que posso dizer é: assistam. Tem o potencial de mudar a visão atual sobre o que é a arte e quem é o artista.

Vim a saber agora que o filme ganhou o Oscar de melhor documentário em 2012. O reconhecimento devido a uma grande obra me alegrou, só para logo em seguida eu me deparar com a informação de que seu jovem diretor, Malik Bendjelloul, se matou em maio passado, com 36 anos.

Malik e Sixto, muito obrigado por embelezarem o mundo com grande arte.

De onde você vem?