16 de setembro de 2011

TotalBiscuit descasca Idra

John Bain, o TotalBiscuit, foi entrevistado pelo Technorati. TB é, disparado, o melhor caster de games e esports que conheço. É uma figura que merece respeito, não apenas por apostar numa carreira independente em terreno ainda incerto, mas porque é inteligente, bem-humorado e ácido.

A entrevista vale a leitura para quem quer conhecer um pouco mais sobre a cena de “gamecasting” independente que a internet está proporcionando. Mas o que mais me chamou a atenção foi a carcada-monstro que TB deu no Idra, o mais nojento dos progamers. Veja abaixo.

Idra, um americano que migrou há alguns anos para a Coréia do Sul apostando na carreira de jogador profissional de Starcraft, é tido pela maioria dos espectadores de esports como grosseiro e arrogante. Sua marca registrada é o ragequit (ou seja, sair do jogo sem dizer GG, forma polida de reconhecer a derrota) e o abuso explícito sobre um oponente que está derrotando, especialmente se este tentou alguma tática não-usual (cheese).

Durante o beta do Starcraft 2, joguei contra o mimadão e quase ganhei num cheese de void ray (era minha única chance, pegá-lo de surpresa com uma unidade que, na época, era apelativa). Ele me venceu, obviamente, e tripudiou dizendo bobagens como “learn to play”. Bostinha.

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EB: There seems to be tension between you and Team Evil Geniuses. Would you like to comment on that?

TotalBiscuit: (…) The issue is with IdrA specifically. I perceive IdrA as a person who snatches headlines from others who deserve them more, through negative actions. For instance, in a recent open tournament, he faced off against one of the strongest Zerg players in Europe, Nerchio, in a best of 3. He lost the first game within 8 minutes and forfeitted the remainder of the series, rather than face Nerchio in one more game. Bear in mind this was the semi-final, of a tournament which had 10 rounds and over 600 players, he fought his way through the bracket to get all the way to the semi-final and then waved the white-flag rather than be potentially crushed again in front of a live audience. This caused a lot of drama within the community and it's not the first time that his actions have lead to this, meanwhile Nerchio went on to defeat Korean player Yong in a stunning comeback and exceptional display of tenacity and skill, having lost the first 2 games in what was shaping up to be a white-wash in favour of the Korean. That to me, was the headline of the tournament and yet IdrA's antics once again became the centre of attention. It's embarrassing and for someone who plays StarCraft 2 for a living, he gives up easier than any other professional I can think of and I cannot respect him as a result. I wouldn't want someone like that in one of my tournaments and to be honest, the only issue I have with EG is that they are not visibly going out of their way to stop this behaviour from one of their star players. (…)

14 de setembro de 2011

O Tea Party é uma festa (de Halloween)

Infalíveis, Jon Stewart e Stephen Colbert deitaram e rolaram sobre o “Tea Party Republican Debate” do início dessa semana.

Stewart, primeiro, humilhou a cosmética do debate na CNN, à la reality show. Um horror, de fato. Se a pirotecnia da Globo me dava alergia, é porque ainda não tinha visto essa coisa bizarra da CNN.

Depois, o “correspondente” do Daily Show Al Madrigal resumiu bem o pensamento da galera presente no debate em Tampa, Flórida: “Ronald Reagan era um comuna hollywoodiano que aumentou impostos, fez crescer o governo e deu anistia a imigrantes ilegais. Aquele pobre filho da puta seria devorado vivo por essa platéia.”

Pois é. Dois momentos escrotíssimos protagonizados pela galerinha Tea Party servem de exemplo. O primeiro foi quando alguns responderam com um “yeah!” à pergunta do Wolf Blitzer ao Ron Paul, sobre se o candidato deixaria um rapaz de 30 anos em coma morrer sem tratamentos médicos porque não tem plano de saúde. O segundo, quando o recorde de execuções do governador do Texas Rick Perry foi ovacionado, num outro debate. Colbert:

Perry, o executioner, o anticiência, o criacionista, é o favorito da turminha. McCain é um progressista, um humanista, perto dele. Se a economia não desandar mais ainda, Obamão dá de landslide em 2012.

Fora isso, Krugman e Al Gore foram os entrevistados de ontem. A entrevista com o Gore está sensacional. Ele teve um lapso, fez referência ao personagem do host, depois ficou tentando se explicar e gerou uma piada expontânea. O talento do Colbert pra crescer no inesperado é admirável.

11 de setembro de 2011

The Man Falling

As imagens e vídeos dos jumpers do WTC são [adjetivo ainda não inventado].

As estimativas variam, mas o consenso é que por volta de 200 pessoas pularam/caíram do alto das Torres Gêmeas há 10 anos atrás. A imensa maioria deles, da Torre Norte, a primeira atingida. Quem estava nos andares acima do impacto do avião não teve chance. Todas as rotas de fuga (escadas) foram cortadas. Todos morreram de forma terrível. Sufocados pela fumaça, queimados, cozidos. Ou numa queda impensável, de eternos dez segundos. “Uma solitária jornada de dez segundos” é a expressão usada no documentário mencionado no post abaixo, The Falling Man.

Já vi muitos vídeos dos jumpers. Inúmeros. Mais do que qualquer detalhe desse evento inacreditável, me fascinam e me aterrorizam. Mesmo assim, não consigo virar os olhos. É o sublime. O próximo post, uma tradução, tratará disso.

O repositório da internet é imenso. Há fotos de jumpers pulando juntos, dando as mãos, em grupos de quatro ou cinco, sozinhos. A quem procura: saiba que há riscos. Principalmente, o de ficar hipnotizado e não conseguir definir o horror. É péssimo não saber definir as coisas. Tentei uma vez. Serviu para amenizar um pouco minha curiosidade mórbida e aquiescer com a escolha de quem pulou.

Mas o que ocorre a partir dos 5:30 minutos do vídeo abaixo está ainda mais além de mim. Só fui capaz de assistir a isso pois já estava dessensibilizado pelos vários outros vídeos de jumpers. É o único vídeo, que conheço, de alguém caindo da Torre Sul.

Este não é um jumper, no sentido da palavra, embora nenhum o seja de fato. Ele escolheu fazer o impossível para viver. Pensou poder fazer uma façanha para evitar a morte. Em poucos segundos, seu plano desesperado transforma-se em [substantivo não inventado].

No plaza, em um prédio contíguo à Torre Sul, o câmera registrava os últimos segundos da vida desse homem enquanto tocava, nas caixas de som do plaza, um arranjo de elevador para uma música de elevador, How Deep is Your Love.

A esse tipo de tragédia e a esse nível de ironia não há qualquer imaginação humana - arte, ciência ou religião, mesmo um artigo jornalístico ou um documentário - que dê respostas. Esse homem, em que pese sua enorme coragem, não é um Falling Man. É um Man Falling. Que alguém mais talentoso do que eu, um dia, lhe dê algum sentido. Pois tudo o que consigo é tentar sentir no íntimo o que ele sentiu e, como ele, sem poder expressar mais nada.

The Falling Man

The Falling Man é o nome de um artigo de Tom Junod publicado na revista Esquire, em setembro de 2003. Depois, virou filme. Um documentário. Sobre a foto de um homem e da busca por saber quem era esse homem.

Este homem:

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Apesar de muita investigação, Junod não conseguiu saber quem era o Falling Man, embora tenha havido alguns candidatos plausíveis. Não importa. O que ele escreveu sobre os jumpers de exatamente 10 anos atrás tem um sentido em si mesmo. Segue o fim do texto, em tradução minha:

É Jonathan Briley o Falling Man? Poderia ser. Mas talvez ele não tenha pulado da janela por uma traição amorosa ou porque perdeu as esperanças. Talvez ele tenha pulado para cumprir os termos de um milagre. Talvez ele tenha pulado para voltar para casa, para sua família. Talvez ele sequer tenha pulado, porque ninguém pode pular para os braços de Deus.

Ó, não. Você tem que cair.

Sim, Jonathan Briley pode ser o Falling Man. Mas a única certeza que temos é a mesma do começo: quinze segundos depois das 9:41 da manhã, em 11 de setembro de 2001, um fotógrafo chamado Richard Drew tirou uma foto de um homem caindo pelo céu – caindo pelo tempo e, também, pelo espaço. A imagem rodou o mundo, e depois desapareceu, como se a tivéssemos desfeito. Uma das mais famosas fotografias na história humana virou uma lápide anônima, e o homem enterrado em suas margens – o Falling Man – tornou-se o Soldado Desconhecido de uma guerra cujo fim ainda não vimos. A fotografia de Richard Drew é tudo o que sabemos dele, mas tudo o que sabemos dele é uma medida do que sabemos sobre nós mesmos. A imagem é seu cenotáfio e, como os monumentos dedicados à memória de soldados desconhecidos em todo lugar, pede que olhemos para ela e façamos um simples reconhecimento.

Que sabíamos quem era o Falling Man a todo momento.

10 de setembro de 2011

Hitchens escrevendo perto da morte

In the preface to my first collection of essays, Prepared for the Worst, in 1988, I annexed a thought of Nadine Gordimer's, to the effect that a serious person should try and write posthumously. By that I took her to mean that one should compose as if the usual constraints – of fashion, commerce, self-censorship, public and perhaps especially intellectual opinion – did not operate. Impossible perhaps to live up to, this admonition and aspiration did possess some muscle, as well as some warning of how it can decay. Then, about a year ago, I was informed by a doctor that I might have as little as another year to live. In consequence, some of my recent articles were written with the full consciousness that they may be my very last. Sobering in one way and exhilarating in another, this practice can obviously never become perfected. But it has given me a more vivid idea of what makes life worth living, and defending.

Em seu artigo sobre o 9/11 e a primavera árabe.

7 de setembro de 2011

Moldando o vazio

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“Moldando o Vazio” é o nome de um artigo de Paul Goldberger para a New Yorker, estranhamente datado de 12 de setembro de 2011. O texto conta algumas das peripécias enfrentadas pelo processo de reconstrução do Ground Zero (como é chamado aquele trapezóide enorme de que um dia fizeram parte as Torres Gêmeas). O final é bonito:

No início do processo de design, [o arquiteto Michael] Arad uniu-se ao paisagista Peter Walker, com quem divide uma sensibilidade minimalista, e eles fizeram do espaço ao redor das duas ‘pegadas’ [das torres originais] uma bonita e contida praça pública, com árvores de carvalho, bancos e postes de luz, dando ao lugar um tipo de ordem calma e firme. Você não o confundiria com um parque tradicional ou uma praça urbana, mas também não é um cemitério. Você sente dignidade e repouso, e vê as formas da cidade renovada nos novos arranha-céus, como deveria. O Ground Zero não pode ser um lugar onde seus pensamentos escapam completamente para a história, como no extraordinário Memorial dos Veteranos do Vietnã de Maya Lin ou no campo de batalha de Gettysburg. Você está no meio da cidade, parte de uma vida urbana que era tanto um alvo para os terroristas de 2001 quanto as vidas de três mil pessoas. As pessoas não mais voltarão, mas a vida da cidade precisa fazê-lo. Quando estiver no parque de Arad e Walker e olhar para as ‘pegadas’ cercadas de nomes com as novas torres por trás delas, você sentirá a profunda conexão entre essas duas verdades.

O memorial abre no próximo dia 11 de setembro.

De onde você vem?