Foram quase duas horas que se passaram em uma.
Quando cheguei na porta do teatro às 10:55 e não vi ninguém, achei que o Jornal de Piracicaba havia me enganado novamente. Apresentação musical às 11 horas de um domingo? Só eu mesmo pra ter acreditado! Então surgem uns dois casais e eu pergunto onde vai ser o show. "Parece que vai ser ali atrás". Nos fundos do teatro, um grupo de pessoas espera sentado no canteiro. "Não fui o único trouxa", penso. Vai ter o Quaternaglia? "Vai. Que horário ruim, hein?" Todo mundo concorda. A maioria conhece o quarteto do programa do Jô.
É um bom negócio ir no Jô. Você não fala, mas vende disco. Aliás, tinha folders e CDs do Quaternaglia na porta do teatro. O folder era de graça e o CD, 30 reais. Peguei o folder. Sou professor.
Abrem-se as portas e as pessoas vão se acomodando numa salinha minúscula, que não lotou. Vasculho o lugar por um banheiro e não o encontro. Pergunto pro cara da porta e ele me indica a localização num outro ponto, indo por fora do teatro. E me diz: "enquanto você não voltar, nós não começamos". Compreensível: se abrissem a porta durante a apresentação, a rua e seus barulhos e luminosidade iriam direto nos músicos. A coisa parecia estar no puro improviso. E ainda bem que o que tinha a fazer não era nada demorado.
Então, quando chego lá, ouço na sala contígua a afinação dos violões e, de repente, uma fritada espetacular. "Fritada" é um termo que meu amigo Saulo usa para designar 325412 notas tocadas por segundo. Era o prenúncio do que estava por vir.
Nem bem havia me acomodado de volta ao meu "assento" (entre aspas mesmo) e entram na sala os quatro músicos e os quatro violões. Eles se acomodam, entreolham-se rapidamente, seguram brevemente a respiração e surgem as primeiras notas. Todo o caos e improviso se transformam em cosmos. E você começa a agradecer por estar numa salinha tão pequena e com tão poucas pessoas vendo esses músicos tocarem tão perto, como se estivessem na sua casa.
Foi difícil de acreditar que aquilo estava sendo executado ali, na nossa frente. A sonoridade é perfeita, quase irreal. Por vezes, sons não usuais saíam daqueles instrumentos e, não fosse pelo fato de estar a poucos metros do "palco", eu teria pensado que havia algum tipo de distorção ali. Em outros momentos, o ataque aos instrumentos foi tão feroz que faria James Hetfield e Dave Mustaine parecerem apenas uns meninos. E o melhor é perceber nos olhares, nas expressões faciais, que esses artistas estão se divertindo, que tudo aquilo é, para eles (e para nós), um grande prazer.
Tudo isso numa salinha escondida atrás do Teatro Municipal de Piracicaba.
O Quaternaglia deveria ser visto por multidões. Mas, enquanto isso, vai ser ótimo continuar a vê-los de jeito que eu vi.
No fim de tudo, ainda encontrei Natanael, o Nata, meu colega de classe que, como eu, é professor de história e não levou nenhum CD. Para o alívio da nossa consciência, os CDs acabaram se esgotando.