29 de abril de 2008
27 de abril de 2008
Ainda é possível...
Snif, snif.
Haverá próximas.
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Aliás, deixem-me adivinhar: a Globo ficou o tempo todo mostrando a torcida do Palmeiras cantando, com áudio claro, com letra de gritos de guerra e tudo mais. Estou certo?
A torcida da Ponte comportou-se de maneira exemplar. Mesmo sendo derrotada, incentivou o time até o final. Ao apito final, cantou o hino do time, aplaudiu, gritou, o escambau. Duvido que isso tenha sido mostrado na transmissão. Havia uma câmera somente voltada pra pequena torcida do Palmeiras e nenhuma visível para a da Ponte. Não duvido também que os microfones tenham mostrado algo muito diferente da realidade.
É prática recorrente da Globo. Me dei conta disso na transmissão de Guarani e São Paulo, no Brinco. Claramente em muito maior número (já que jogava em casa), a torcida do Guarani parecia inexistente na transmissão, que privilegiava com imagens e alto e bom som a torcida do time da capital. É algo muito estranho. Um exemplo: no dérbi deste ano, no Moisés Lucarelli, mesmo estando atrás no placar durante todo o jogo, a torcida do Guarani fez muito mais barulho do que a do Palmeiras hoje, em plena decisão.
Os interesses mercadológicos são claros, óbvios, e até compreensíveis. Mas montar, manipular a transmissão, invertendo a ordem do espetáculo, é algo muito nojento. Faz muito mal ao esporte.
"Seu estádio é majestoso..."
Um majestoso adeus
Por ROBERTO VIEIRA
... carta publicada esta semana nos jornais de Campinas
'Querem me dizer adeus.
Vivem aos cochichos pelos cantos. Pelas salas. Pelas noites.
Têm medo de me ver sofrer.
Pois é triste dizer adeus a quem se ama. Mas, insisto: Querem me dizer adeus!
Amanhã serei saudade, uma nota no rodapé dos livros.
Uma citação.
Estou velho. Sou de um tempo em que se construíam sonhos com as próprias mãos.
Hoje chamam a Odebrecht. Será parente do Bertold?
O Bertold sempre me dizia que não basta ter sido bom quando se deixa o mundo.
É preciso ter deixado o mundo melhor.
E eu, modéstia à parte, deixei.
São quase sessenta anos de um casamento feliz. Outros possuem brincos de ouro.
Eu possuo bodas de diamante.
Mas, se o adeus for melhor para a Ponte Preta, fico feliz. Dever cumprido.
Quando nasci, eu era o Majestoso. Maior que eu apenas o Januário e o Pacaembu.
Eu vi a Ponte crescendo. Ganhando, perdendo, sonhando, sofrendo.
Eu vi Dicá, vi Carlos, Polozzi, Oscar.
E eu acompanhei na distância os três jogos das finais de 1977. Silencioso. Facundo.
Vice.
Não sabem se me vendem, ou se me entregam para ser vendido.
Embora não goste de me sentir um objeto, um escravo, um bem material, de nada adiantariam meus protestos.
Para muitos sou apenas cimento e tijolo. E business.
Que me vendam!
Mas todo mundo tem direito a um último desejo. E eu sou como todo mundo.
Peço aos meninos da Ponte. Ponte a quem eu amo sobre todas as coisas desse mundo.
Eu quero ser campeão paulista de 2008!
Eu quero ser campeão pela primeira e última vez na minha história.
Depois, podem ir de mala e cuia para o Jardim Eulina...
M. Lucarelli
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A história é bem conhecida: fundado em 1948, o Estádio Moisés Lucarelli foi construído com a ajuda de centenas de torcedores da Ponte. E pela primeira vez em sua história - que pode em breve chegar ao fim - vai abrigar uma final de campeonato e ver a Ponte lutando pelo título. Acho que o presente já está dado.
Mas que venham Valdívia e Luxemburgo, diria o Majestoso, vulgo La Bananera.
E dá licença que eu vou testemunhar este momento histórico.
Pois é possível!
25 de abril de 2008
A conspiração da imprensa marrom
Como todo mundo sabe, Pelé, o Edson Arantes do Nascimento, está muito longe de ser um grande expoente da arte divinatória futebolística. Entretanto, eis que descubro indícios de um enorme complô dos grandes meios de comunicação contra a minha obstinada nêga véia campineira. Cientes do pé-frio cósmico que caracteriza o atleta do século, os órgãos da imprensa marrom enxergaram opinião sólida em comentários sóbrios e cautelosos e vislumbraram uma oportunidade de acabar com a decisão antes dela começar: é público, notório e cientificamente comprovado que, ao menor sinal de opinião do Pelé, os quarks agitam-se nos núcleos atômicos, os elétrons mudam repentinamente seus spins, e então todas as forças sub-atômicas convergem para desautorizar qualquer previsão do Rei do Futebol.
Edson Arantes do Nascimento não apostou na Ponte, está claro. Trata-se de um putsch, um coup, uma tentativa de decidir à força o campeonato fora de campo, a la 1977. Contra tudo e contra todos, rema rumo ao título a Ponte Preta.
A verdade está lá fora.
19 de abril de 2008
O Super-Herói
Encha o peito, solte o grito da garganta, e confira comigo no replay quantas vezes Milton Leite grita o nome do guarda-metas bestial!
PS: É possível!
14 de abril de 2008
9 de abril de 2008
7 de abril de 2008
"From my cold dead hands"
Pegou mal o macaco abaixo com a automática na mão no dia em que morreu Charlton Heston?
Na tentativa de representar a Macáquina Mortífera (©AFC), esbarrei involuntariamente no que pode ser visto como uma citação positiva ao ex-líder da NRA (Associação Nacional do Rifle dos EUA). Estrela do Planeta dos Macacos original, Heston recebeu uma homenagem nojenta de Tim Burton em seu remake: foi-lhe concedido espaço para, vestido de macaco, considerar uma arma de fogo a prova máxima da inteligência humana.
Heston pode ter sido um grande ator, um baita cara, um pai amoroso, um vovô brincalhão, etc. e tal. Mas, do ponto de vista político (pra dizer o mínimo), não dá pra não pensar que já foi tarde.
Deu tempo, no entanto, de ser pego na curva e de jeito por Michael Moore:
6 de abril de 2008
2 de abril de 2008
1o. de abril!
A resenha do livro está a caminho.
Prometo risadas.
1 de abril de 2008
A mentira do real
Há um certo tempo, um amigo me disse que eu havia caído numa espiral de representações (devida principalmente à atenção dispensada a Schopenhauer) em que passei a negligenciar a discussão sobre aquilo que de fato existe. "A Lua está lá", ele me disse, para me lembrar que a Lua existe e, de fato, está lá. Analogamente a alguns acadêmicos com quem tive contato, que entoavam um lema positivista: "o real existe".
Nada mais ingênuo. Parafraseando a insígne filósofa norte-americana Shirley MacLaine, digo ao meu amigo: "prove que VOCÊ existe. Eu poderia estar imaginando você neste momento. Você pode ser uma ilusão perpetrada pelo meu sistema nervoso, ou melhor, pelo meu espírito."
A recente leitura de certas obras-chave do que há de melhor no pensamento de fins do século XX acerca do "real" e suas representações me impulsionaram na direção de uma opinião diametralmente oposta: o real é uma ilusão, não existe por si. O mundo exterior é uma construção do sistema nervoso (este também uma representação, não algo que existe objetivamente) que capta os estímulos sensoriais de acordo com uma teia engendrada pelo arcabouço cultural do indivíduo, bem como pelas estruturas sociais de que este participa. O "real" é determinado, ou melhor, a ilusão de sua existência é determinada, portanto, pelo locus de cada sujeito discursivo. Tinha razão Michel Foucault quando chamou a atenção para a necessidade de reativar os denominados "saberes locais" em detrimento do saber unívoco e centralizador da ciência. Neste sentido, Gilles Deleuze e Félix Guattari intuiram, genialmente e de maneira sucinta e clara, que:
"[...] não existe nenhuma correspondência biunívoca entre elos lineares significantes ou de arquiescritura, que dependa do autor, e esta catálise maquínica
multirreferencial, multidimensional. A simetria da escala, a transversalidade, o
caráter pático não-discursivo de sua expansão: todas essas dimensões nos removem da lógica do meio excluído e nos fortalecem em nossa renúncia ao binarismo ontológico que havíamos criticado previamente. [...] A relatividade ontológica aqui defendida é inseparável de uma relatividade enunciativa. O conhecimento de um Universo (em um sentido astrofísico ou axiológico) somente é possível por intermédio de máquinas autopoiéticas. Convém que uma zona de autopertinência exista em algum lugar para que possa chegar à existência cognitiva qualquer ser ou qualquer modalidade de ser. Fora desta acoplagem máquina/Universo, os seres têm apenas o status de entidade virtual. [...] Fora deste ponto de vista particularizado, o restante do Universo só existe (no sentido em que é entendida a existência aqui-embaixo) através da virtualidade da existência de outras máquinas autopoiéticas no seio de outras biomecanosferas dispersas pelo cosmos. A relatividade de pontos de vista de espaço, de tempo e de energia não absorvem, por tudo isso, o real no sonho."
As contraposições ingênuas entre realidade e ficção, real e virtual, verdadeiro e falso, não resistem a esta claríssima e brilhante exposição de dois dos principais filósofos franceses fin-de-siècle. Àqueles que ainda se negam a enxergar o óbvio, não custa nada lembrar a grande Luce Irigaray e sua portentosa demonstração da incapacidade da ciência em atingir o "real" (posto que este não existe em si mesmo) e sua essencial subjetividade que, no caso que segue, se traduz em sexismo:
"Enquanto o homem possui órgão sexual que se projeta e se torna rijo, a mulher tem abertura que deixa sair o sangue menstrual e os fluidos vaginais. [...] É a rigidez do órgão masculino que conta, não sua cumplicidade no fluxo do fluido. Essas idealizações estão reinscritas na matemática, que concebe fluidos como planos laminados e outras formas sólidas modificadas. Da mesma forma que a
mulher é suprimida das teorias e da linguagem machista, existindo apenas como não-homem, os fluidos foram suprimidos das ciências, existindo somente como não-sólidos. Desta perspectiva, não é surpresa que a ciência não tenha sido capaz de chegar a um modelo bem-sucedido para a turbulência. O problema do fluxo turbulento não pode ser resolvido porque as concepções sobre fluidos (e sobre a mulher) foram assim formuladas de modo a deixar restos necessariamente desarticulados."
Desmascarada de suas fascistas tentativas de se passar por conhecimento objetivo que visa desvendar o "real" (insisto nas aspas), a ciência se vê acuada e responde com bombas atômicas e o aquecimento global. É chegada a hora, portanto, de romper com as amarras do positivismo e pleitear a substituição do triunfalista discurso científico empírico-racionalista ocidental judaico-cristão por uma nova ciência pós-moderna, uma ciência poética, que circunscreve o "real" como tal, qual seja, uma mera ilusão construída de maneira muitas vezes sórdida que busca a (re)significação do ser humano enquanto pilha alcalina do sistema capitalista internacional. Como profetizou Julia Kristeva:
"Nesta "potência do continuum" do zero ao dobro especificamente poético, percebe-se que "a proibição" (linguística, psíquica e social) é o 1 (Deus, a lei, a definição), e que a única prática linguística que "escapa" a esta proibição é o discurso poético."