Foi durante a transmissão do treino de F1 para a corrida noturna de daqui a pouco que fiquei sabendo da morte de Paul Newman. Nada demais, pensei. Ele já tinha mais de 80 anos. A notícia de que estava em estado terminal já havia circulado, bem como a da sua decisão de recusar mais tratamentos médicos e se recolher com a família para morrer em casa. Todas as agências de notícias vão dizer que era um grande ator, etc., e deve ter sido mesmo. Lembro-me apenas vagamente de alguns de seus papéis, como o do advogado nem-tão-bem-sucedido que consegue derrotar uma máquina jurídica num caso de erro médico (o Google acabou de me lembrar que o filme é "O Veredito", habituê dos Corujões e Sessões de Gala da vida). Enfim, Newman não era um dos meus favoritos. Por isso não fiquei triste como ficaria ao saber da morte de, digamos, Jack Nicholson.
Eu já sabia que Newman tinha um envolvimento muito grande com o mundo das corridas. Era dono de uma das melhores equipes de F-Indy, a Newman-Haas. Seus carros cinzas venceram campeonatos com Mario e Michael Andretti, Nigel Mansell e Sébastien Bourdais. Lembro-me que eu odiava esses carros cinzas quando criança porque eram alguns dos maiores rivais do Emerson Fittipaldi, pra quem eu torcia embalado pelo ufanismo histérico do Luciano do Valle. Além de dono, Newman era chefe de equipe, desses que ficam no box de macacão falando com os pilotos pelo rádio. Nunca vou me esquecer de um final de corrida, acho que era a de Vancouver, 1989, em que Michael Andretti jogou o carro em cima do Emerson na penúltima curva pra vencer, para delírio de Newman nos boxes. Não gostava dele.
Eu também já sabia que o ator se arriscava a acelerar esportivamente, mas só isso. Não sabia de alguns dos detalhes que tornam a história de Paul Newman uma coisa absolutamente fantástica: em 72, a primeira vitória numa corrida oficial; em 77 a primeira participação nas tradicionalíssimas 24 horas de Daytona; em 79 um segundo lugar nas mais tradicionais ainda 24 de Le Mans; e (por favor, leiam isso duas vezes) venceu as 24 horas de Daytona em 1995, aos 70 anos de idade. Paul Newman era um piloto de verdade. Um ótimo piloto de verdade.
Mas isso tudo não diz exatamente muita coisa além da pitoresca combinação ator-piloto de corridas. O que realmente me fez voltar a ter vontade de escrever um texto às 4 da manhã (com o "compromisso" de acordar às 9 para ver a sacrossanta F1) é que eu quero que vocês saibam que no fim de agosto, aos 83 anos e sabendo que tinha algumas poucas semanas de vida, Paul Newman, o piloto de corridas, pegou seu Corvette GT1, levou-o à pista de Lime Rock Park e guiou por uma hora e meia, observado por sua família e pelos mecânicos da Newman-Haas. É isso. Newman tinha 83 anos, câncer terminal nos pulmões, e foi se despedir de seu Corvette. À toda. Tenho certeza de que o velho não aliviou e sentou a bota como se...
Como se não houvesse amanhã.
Não é algo absolutamente comovente e inspirador e lindíssimo?