7 de novembro de 2012

United States of Ohio (8)

Como é bom ver essa gente espernear.

Faz tempo, a Fox News vem criando ficções com roupa de realidade para uma enorme fatia da população americana. Em sua versão fictícia do mundo, há doses generosas de paranoia e conspiracionismo refogadas num caldeirão nacionalista que beira o fascismo.

Obama acabou de discursar. O mote: o país está rachado e devemos cuidar para que não seja assim. Desconfio que isso não seja apenas fruto da necessidade protocolar de louvar a unicidade de uma nação após uma campanha acirrada pelo poder.

Só agora, com 85% das urnas apuradas, Obama ostenta a liderança na contagem geral de votos. Pouco mais de 100 mil votos o separam de Romney, num universo de uns 120 milhões de eleitores votantes. Essa deverá ser a eleição mais apertada, nesse quesito, desde Nixon e Kennedy, ou Dewey e Truman, não sei.

Bem mais de 50 milhões de pessoas votaram contra Obama. A maioria delas vive dentro de uma bolha de fantasia reacionária, conscientemente reforçada por um cínico modelo de negócios no ramo da desinformação e da mentira, inflamada com sentimentos de medo, territorialidade, etnocentrismo e individualismo, caracterizada por uma persistente falta de percepção do outro, manifestada como intolerância religiosa, como racismo e como um incompreensível desdém por toda miséria humana.

Nada garante que, com uma economia agonizante, esse discurso reacionário se enfraqueça. Pelo contrário.

Por isso, é momentaneamente tranquilizador que o moderadamente conservador Obama tenha conseguido se manter no poder. Mas é perturbador que um discurso tão desconectado da realidade quase o tenha derrubado. Um clima ideológico cada vez mais envenenado pelo cinismo no maior poder bélico e nuclear do mundo não é boa coisa.

“Estamos” quase todos fudidos, disse alguém num comentário por aqui.

Pode ser. Pode bem ser.

Estão brincando com fogo.

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