30 de julho de 2019

Memento

528
00:37:12,400 --> 00:37:15,000
Eu sei que não posso
tê-la de volta.

529
00:37:16,200 --> 00:37:18,150
Mas não quero
acordar de manhã

530
00:37:18,151 --> 00:37:20,800
pensando que ela
ainda está aqui.

531
00:37:21,600 --> 00:37:23,900
Fico deitado sem saber

532
00:37:23,901 --> 00:37:26,400
por quanto tempo
estou sozinho.

533
00:37:32,200 --> 00:37:34,100
Então como...

534
00:37:34,900 --> 00:37:36,900
Como posso me curar?

535
00:37:39,400 --> 00:37:42,800
Como devo me curar
se não consigo...

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00:37:43,100 --> 00:37:45,400
sentir o tempo?

16 de maio de 2019

Gracefully fade out of view

I wish I was a beautiful balloon
I would rise up
Above it all
And fade out of view
Gracefully fade
Fade out of view
What have you turned me into?


What have you gone
And done
My love?
Incinerated in the morning sun

High
So high
I just
May
Never come down





10 de maio de 2019

Potássio

Tinha tudo pra ser uma acreção progressiva
Mas a colisão foi insuficientemente inelástica
Vaporizamo-nos
Você foi parar em Marte
Eu, acelerado
Atravesso o braço de Perseus
Éons em Laplace-trip

29 de março de 2019

Cantiga de amigo

Woke up this morning singing an old, old Beatles song.

Lembro de palavras, mas não de quais eram, exatamente. Quando penso nelas, nas palavras, elas me escapam. O que não me escapa, o que me perfura o pâncreas e me causa a ressaca de uma noite extática, é a anatomia da cena. A voz. Os dedos agarrando a capa do livro. Os dedos. As cutículas. As unhas. As linhas da pele daquelas mãos. As veias daquelas mãos. A textura daquela pele que cobre aquelas veias. Os olhos perseguindo as palavras. As pupilas pretas. Os verdes circundantes. As sobrancelhas que dançam ao ritmo das palavras das quais não me lembro. O nariz. A boca. As linhas de expressão da boca e dos olhos. Os sons que saem da boca. Into my arms, oh Lord, into my arms.

Sinto que o mês presente me assassina. Soltar um foguete e encher o céu de balão. E ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos. Me mentiu jurando amor que não tem fim. O zóio da cobra verde. Hoje foi que arreparei. Eis o tempo dos assassinos. Bandeira branca enfiada em pau forte.

Algumas palavras me vêm. E me matam.

Vem, amiga, e conte uma coisa linda pra mim. Pode ser qualquer texto, qualquer poesia, qualquer sequência numérica. Leia para mim uma bula de Lexotan, meu amor. Leia para mim o manual da impressora. A fatura da CPFL. Leia. Decodifique algo para mim. Faça passar um registro escrito qualquer pelos seus olhos, pelo seu cérebro, pelo seu sangue. Transforme-o na voz, a sua voz. Perturbe o ar. Acaricie meus tímpanos. Faça das minhas sinapses os seus fantoches. Quero respirar fundo, minha amiga, mulher. Quero ser eu mesmo. Nu. Amado. Pleno. Escolhido.

Banhado pela luz da sua voz em madrugadas eternas eu nunca morro. Ali eu nunca morro.

Uma cena em pedra. Uma Pompéia só nossa. A vida ao redor é a velha morte de sempre.

De onde você vem?