26 de fevereiro de 2009

Trechos - parte 2 (contato)


Pouco antes de toparem com um pesadelo e trazê-lo inadvertidamente para dentro de sua própria nave, três humanos observam um engenho alienígena, outra espaçonave, fonte de um misterioso sinal de socorro ou alerta. Foi aí que

Dallas se deu conta de quão pequeno o barco espacial o tornava. A ele e aos outros. E não só fisicamente, embora o arco majestoso, desmesurado os reduzisse - pobres bichos da terra - a insetos; mas insignificantes também de um ponto de vista cósmico. A humanidade sabia ainda muito pouco do universo e apenas explorara uma fração mínima de um só setor.
Uma coisa é especular ao telescópio sobre o que poderá esconder-se na imensidão dos céus. Outra, fazê-lo no isolamento de um pequeno argueiro de mundo como aquele, confrontados por uma nave de manufatura alienígena, que mais parecia uma excrescência animal que um engenho familiar, maneiro, feito para superar leis naturais da física.
Isso, admitiu o capitão, era o que mais o perturbava acerca da nave sinistrada. Se se conformasse às linhas habituais, se fosse feita de material conhecido, não pareceria tão assustadora. E não punha tais sentimentos à conta de xenofobia. No fundo, não esperara que aquela coisa alienígena fosse tão alienígena assim...

Alan Dean Foster, Alien, 1979, p. 66. Altamente devorável, por $3lão no sebo. Tão bom quanto o filme.

24 de fevereiro de 2009

15 (f*cking) Step

No lugar da batida eletrônica, uns 15 percussionistas. Uma pancada de metais faz as vezes do baixo e do sintetizador. Thom Yorke e Johnny Greenwood no que fazem de melhor.

Eis uma 15 Step fantástica.




Uma versão com áudio (muito) superior pode ser encontrada abaixo - sem o video, porém.



Falta só um mês pro show.

21 de fevereiro de 2009

Trechos - parte 1

Como a vontade de ler é infinitamente maior do que a de escrever, de hoje em diante vão começar a pipocar alguns trechos que, acho eu, farão com que este blog volte a ter alguma serventia a vocês, 17 milhões de leitores. Vou poupá-los de reflexões minhas. Os textos serão jogados crus, aqui. Façam bom proveito, se possível.

O primeiro excerto é da apresentação a um artigo de Donna Haraway, "Manifesto Ciborgue", sobre nossa relação com as tecnologias. O texto é um marco do pensamento pós-moderno, feminista, mas é complicado e chato de doer. A apresentação, do jornalista britânico Hari Hunzru, é bem melhor. Quer dizer: é mais fácil de entender e não deixa de ser interessante por si mesmo.

Desde que Descartes anunciou que 'eu penso, logo existo', o mundo ocidental tem tido uma obsessão pouco sadia com a condição do eu. Do consumidor individual ao solitário mal compreendido, ensinam-se os cidadãos modernos a se pensarem como seres que existem no interior de suas cabeças, como seres que apenas secundariamente entram em contato com o resto do mundo. Desenhe um círculo. Dentro: eu. Fora: o mundo. Os filósofos se angustiam com a questão de determinar se existe qualquer realidade fora daquele círculo. Eles tem um termo técnico para suas neuroses - ceticismo - e fazem acrobacias intelectuais para dissipá-lo. Em um mundo feito de dúvidas, cruzar aquela fronteira torna-se um problema real, isto para não falar da questão de se romper o isolamento relativamente a outras pessoas.

Hari Kunzru, "'Você é um ciborgue': um encontro com Donna Haraway" in: Antropologia do Ciborgue: as vertigens do pós-moderno. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

Saúde!

Com um pouquinho de atraso - invariável atraso -, aqui vai uma homenagem ao sujeito responsável pela mais espantosa notícia do começo do ano. 

Que posse de Obama, que nada. Sasqua vai ser pai. 


A homenagem propriamente dita está mais pro final do vídeo. 

O tempo passa, o tempo voa, e do jeito que vai, daqui a pouco é o(a) pequeno(a) sasquinha aprendendo a usar um lendário instrumento de alcoolização expressa.

Vídeo via Idelber.

3 de fevereiro de 2009

O nascimento de Israel

Um post recente do Pedro Doria traz um excelente documentário da BCC, do ano passado, The Birth of Israel. Uma hora de história muito bem contada pelo editor da emissora britânica no Oriente Médio, Jeremy Bowen.



BBC The Birth of Israel 2008 legendado from olhocosmico on Vimeo.

C&T no desenvolvimento nacional

Precisei escrever o artigo abaixo, de 3 laudas (o que dá, na cotação atual, 4 prosts, 9 mansells ou 0,4 sennas) como inscrição para um curso de jornalismo científico. Como o blog anda meio às moscas, não custa nada encher uma linguicinha com idéias sobre o papel da ciência e da tecnologia no desenvolvimento do país.

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Vivemos os últimos anos da primeira década do século 21, um momento na história em que certamente é considerada óbvia e inquestionável a afirmação de que a ciência e a tecnologia são protagonistas do desenvolvimento das nações modernas. E justificadamente: o século passado foi prodigioso em exemplos que confirmam essa assertiva. Os últimos cento e poucos anos testemunharam um avanço tecnológico vertiginoso - impulsionado por algumas das mais profundas revoluções da história da ciência - que propiciou melhorias sem precedentes em virtualmente todos os aspectos da vida humana. O desenvolvimento da medicina e das técnicas de saneamento desencadeou uma diminuição acentuada dos números de mortalidade infantil e um aumento considerável na expectativa de vida. Os meios de transporte tornaram-se mais rápidos, seguros e confortáveis, facilitando inclusive a produção de bens de consumo e o comércio. As tecnologias da informação, fenômeno de desenvolvimento recente, revolucionaram a forma como produzimos e compartilhamos conhecimento, informação e arte. A construção de máquinas como o Grande Colisor de Hádrons e telescópios espaciais como o Hubble, Spitzer e Kepler, dá-nos a chance de saber um pouco mais sobre o infinitamente pequeno e o assustadoramente grande, abrindo possibilidades de interpretação filosófica do universo e da própria vida humana com as quais ainda só podemos sonhar. A lista é longa. Páginas e mais páginas poderiam ser preenchidas com exemplos similares que, no entanto, ainda não respondem satisfatoriamente à pergunta: que papel ciência e tecnologia (C&T) podem desempenhar no desenvolvimento nacional e, em especial, no desenvolvimento de um país com as peculiaridades sociais e econômicas do Brasil?

A resposta pode começar a surgir de um aparente dilema que vez ou outra aparece, especialmente nos meios de comunicação: o Brasil é um país com tantos problemas sociais graves que a destinação de recursos públicos para C&T pode configurar-se como supérfluo frente às necessidades mais prementes e imediatas da sociedade brasileira. Este dilema existe apenas na aparência, e por uma razão muito simples: ciência e tecnologia não apenas são essenciais para a resolução das contradições e desigualdades sociais a longo prazo, como podem mesmo preparar o país para solucionar imediatamente problemas inesperados que, do contrário, continuariam a existir e a contribuir para a estagnação do desenvolvimento. Exemplo claro disso é a atuação do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) na década de 1930.

Um dos efeitos da crise econômica mundial de 1929 no Brasil foi a quebra do setor cafeeiro, uma das locomotivas da economia nacional. Entrementes, a Seção de Algodão do IAC, criada em 1923, vinha realizando pesquisas para a adaptação de variedades do algodão trazidas dos Estados Unidos e, como narra o historiador da ciência Shozo Motoyama, “após quase dez anos de experimentação, esse programa conseguiu êxito em adaptar as variedades mais promissoras às condições climáticas da região Sul” . As pesquisas do IAC, alvo de interesse genuíno por parte de pesquisadores norte-americanos, foram centrais para a então surpreendente cotonicultura brasileira, responsável por salvar a economia paulista da estagnação.

Esse tipo de pesquisa, voltada para o desenvolvimento da agricultura, continua a desempenhar até hoje um papel importante no cenário brasileiro. A Embrapa Cerrados - braço da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, órgão do Ministério da Agricultura –, por exemplo, vem se dedicando com sucesso na obtenção de conhecimento e melhorias técnicas para a exploração agrícola dos cerrados brasileiros. Se os objetivos elencados no 4º plano diretor (vigente de 2008 a 2011) do órgão forem minimamente atingidos, estaremos diante de uma ótima contribuição da C&T para o desenvolvimento ambientalmente sustentável da agricultura brasileira, com atenção para a diminuição da desigualdade social nas regiões estudadas. Outro exemplo de pesquisa brasileira voltada para a agricultura visando resultados práticos não muito longínquos foi o sequenciamento do material genético da Xylella Fastidiosa, bactéria causadora da clorose variegada dos citrus, a “praga do amarelinho” que causa perdas de cem milhões de dólares anuais aos citricultores paulistas . Financiada pela Fapesp, a pesquisa ganhou especial atenção da comunidade científica internacional e das principais revistas científicas do mundo, inclusive ganhando capa e editorial da revista Nature. O trabalho abre possibilidades de acabar com a praga pela manipulação genética da bactéria.

Estes exemplos mostram, de maneira até bastante clara, a importância da C&T para o desenvolvimento do setor produtivo, com aplicabilidade mais ou menos no curto prazo e com resultados perceptíveis aos olhos do público. Trata-se de algumas das principais contribuições da C&T, pelo menos no que se refere a sua aplicação prática na resolução de problemas do presente, para o desenvolvimento nacional. Devo, no entanto, ressaltar que seria um erro satisfazer-se com uma visão meramente utilitarista da ciência. Sua importância não reside apenas naquilo que pode fazer por nós agora, em quantos milhões de dólares pode salvar hoje ou quantas pessoas alimentará amanhã. Porque pensar o contrário disso é desconsiderar a beleza e a importância do aspecto imaginativo da ciência. O desenvolvimento de um país não parte somente de sua produção material. Ciência e tecnologia devem servir, também, como instrumento da liberdade de pensamento e de imaginação das pessoas - é neste aspecto que a ciência se aproxima da arte, que contribui também, à sua maneira, para que um país se desenvolva nos mais variados sentidos da realidade.

Não se está defendendo aqui, contudo, a visão da C&T como panacéia do desenvolvimento nacional. Ciência e tecnologia são apenas alguns dos principais elementos – essenciais, é verdade – que podem levar ao desenvolvimento brasileiro. O papel desempenhado pela C&T depende também da conjuntura econômica, política e social; depende de como serão levadas a cabo políticas de educação, de redução das desigualdades sociais, de incentivo ao setor produtivo. Sociedade e ciência estão, neste sentido, numa intrincada relação de interdependência.

Além de estar longe de ser a panacéia que alguns otimistas podem imaginar, a ciência também pode ter suas responsabilidades nos próprios problemas que afligem o mundo e, por conseqüência, o Brasil. É flagrante, por exemplo, a importância da C&T na consolidação do processo da globalização, de cujas benesses em boa parte podemos desfrutar, ao preço de experimentarmos os silenciosos efeitos negativos da concentração de poder e riquezas pelos países desenvolvidos. Mais perceptível, ainda, é o seu papel na deterioração do meio-ambiente, no desenvolvimento da indústria bélica e suas máquinas de matar cada vez mais eficientes, no arsenal atômico das grandes potências.

Entretanto, se a ciência é responsável por encruzilhadas e becos sem saída, ela também pode servir de guia para retomarmos o rumo correto. Em outras palavras, a ciência, capaz de criar mazelas terríveis, é também a mais poderosa ferramenta de questionamento, desconstrução e resolução não apenas destes mesmos problemas mas de grande parte das questões mais importantes que nos aflige, hoje. Trata-se, portanto, de elemento essencial, conjuntamente com a tecnologia, no projeto de desenvolvimento pleno de um país como o Brasil.

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Retirei as citações porque, afinal, isso aqui não é academia. Mas as referências são o site da Embrapa Cerrados e, principalmente, Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil, organizado por Shozo Motoyama.

De onde você vem?