O primeiro excerto é da apresentação a um artigo de Donna Haraway, "Manifesto Ciborgue", sobre nossa relação com as tecnologias. O texto é um marco do pensamento pós-moderno, feminista, mas é complicado e chato de doer. A apresentação, do jornalista britânico Hari Hunzru, é bem melhor. Quer dizer: é mais fácil de entender e não deixa de ser interessante por si mesmo.
Desde que Descartes anunciou que 'eu penso, logo existo', o mundo ocidental tem tido uma obsessão pouco sadia com a condição do eu. Do consumidor individual ao solitário mal compreendido, ensinam-se os cidadãos modernos a se pensarem como seres que existem no interior de suas cabeças, como seres que apenas secundariamente entram em contato com o resto do mundo. Desenhe um círculo. Dentro: eu. Fora: o mundo. Os filósofos se angustiam com a questão de determinar se existe qualquer realidade fora daquele círculo. Eles tem um termo técnico para suas neuroses - ceticismo - e fazem acrobacias intelectuais para dissipá-lo. Em um mundo feito de dúvidas, cruzar aquela fronteira torna-se um problema real, isto para não falar da questão de se romper o isolamento relativamente a outras pessoas.
Hari Kunzru, "'Você é um ciborgue': um encontro com Donna Haraway" in: Antropologia do Ciborgue: as vertigens do pós-moderno. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Um comentário:
É complicado se falar em mundo, eu, compreensão de mundo, medos, ceticismo, realidades...Mas vou mais ou menos pelo caminho de 'Schops'.
Para o pessimista, realista e camarada Schopenhauer, o mundo nada mais era do que representações. Já a essência desse mundo não estaria no mundo propriamente, mas no seu exterior, a qual 'Schops' vai denominar de: vontade.
Se meu eu compreende o lado de dentro de um círculo, fora só me resta as minhas criações/representações do mundo.
Pensando assim, minhas neuroses desaparecem!
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