6 de julho de 2009

Sympathy for the devil

Lição número 1 da vida de Robert McNamara: sinta empatia pelo inimigo. A crise dos mísseis na visão do "arquiteto da guerra do Vietnã", abaixo.






Robert Strange McNamara, o odiado secretário de defesa dos Estados Unidos durante os governos Kennedy e Johnson, morreu hoje, aos 93 anos.

Chamado por Chomsky de "narrow technocrat", McNamara tinha ideias que talvez estivessem no oposto do que considero certo e bom pro mundo. Um "inimigo". Mesmo assim, é impossível não simpatizar com aquele velho e também aprender com as lições de sua vida.

No documentário Fog of War (torrent aqui), de 2004, McNamara reconhece erros, faz autocrítica, deixa entrever a culpa: "estávamos agindo como criminosos de guerra", diz sobre os bombardeios incendiários ao Japão, que ajudou a planejar. Projetou a guerra com a mesma racionalidade meticulosa e aposta na tecnologia que aplicou na ressurreição da Ford. "Uma vida para o complexo industrial-militar americano", poderia ser o subtítulo para uma biografia. Trabalhou duro, com muita eficiência, pela hegemonia americana na disputa da Guerra Fria.

Fog of War é dirigido por Errol Morris (que também fez o clássico A Brief History of Time, sobre a vida e as ideias de Stephen Hawking). Quando lançado, serviu de alerta para as decisões erradas da administração Bush sobre o Iraque. Significava um recado daquele experimentado senhor: "olhem aqui, criançada, isso não vai dar certo; eu já passei por isso, vocês vão fazer cagada; não se iludam com essa história de guerra tecnológica, racional, asséptica". A última lição de McNamara, que ele aprendeu às custas do próprio insucesso: a guerra não é inteiramente compreensível, racionalizável. Estamos sempre sob a 'névoa de guerra' que nos impede de enxergar adiante.

Talvez tenha sido um Adolf Eichmann com muito mais brilho e autoconsciência. "A lot of people think I´m a son of a bitch", reconheceu. Não se sabe como será lembrado. Merece respeito e empatia.

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