Este meu artigo foi retirado do ar temporariamente pois utilizei-o como base de meu projeto de mestrado. :)
Este meu artigo foi retirado do ar temporariamente pois utilizei-o como base de meu projeto de mestrado. :)
O bate-boca sobre o sistema de saúde nos Estados Unidos na visão de Johann Hari, do britânico The Independent: o triunfo da irracionalidade.
Brilhante artigo.
Indicado pelo Gomes, vai aqui um trecho do texto do Caderno do Saramago sobre a senhora cagada que o gênio luso (sem qualquer tipo de piadinha, ora pois) cometeu em sua juventude como mecânico. Depois daquilo, largou mão de dirigir, foi ser escritor. Fez um bem danado pra humanidade. Como poderia um bom mecânico que não tivesse talento para a escrita descrever, de maneira tão natural e engraçada, a peripécia de se encher um radiador mal montado?
Desenrosquei pois o tampão e comecei a deitar para a boca do radiador a água com que tinha enchido o velho regador que para esse e outros efeitos havia na oficina. Um radiador é um depósito, tem uma capacidade limitada e não aceita nem um mililitro mais do que a quantidade de água que lá caiba. Água que continue a deitar-se-lhe é água que transborda. Algo de estranho, porém, se estava a passar com aquele radiador, a água entrava, entrava, e por mais água que lhe metesse não a via subir dançando até à boca, que seria o sinal de estar acabado o enchimento. A água que já vertera por aquela insaciável garganta abaixo teria bastado para satisfazer dois ou três radiadores de camião, e era como se nada. Às vezes penso que, sessenta e muitos anos passados, ainda hoje estaria a tentar encher aquele tonel das Danaides se em certa altura não me tivesse apercebido de um rumor de água a cair, como se dentro da oficina houvesse uma pequena cascata. Fui ver.
Eis a mais fantástica introdução que eu já vi para uma crítica musical:
We used to listen to music in an entirely different way. There was once a time when music was organized into 45- to 75-minute chunks-- often a few standout tracks padded with a lot of mediocre filler, but occasionally designed so that the parts built up a larger structure. Used to be, people would sit down and listen to that lengthy piece of music from front to back in one sitting, resisting the urge to jump to their favorite parts or skip over the instrumental interlude that served as grout between two fuller compositions. These antiques were called CDs. Here's a story about the last of its kind.
Vejam agora como Jonathan Swift imagina um relatório de dois pequeninos seres sobre um objeto, para nós, muitíssimo familiar. O objeto de Gulliver tinha
uma grossa corrente de prata, com uma maravilhosa espécie de engenhoca na ponta. Mandamos que tirasse aquilo que estava pendurado na corrente: era um globo feito metade de prata, metade de um metal transparente. Pelo lado transparente vimos certas figuras esquisitas traçadas num círculo; julgamos que lhes poderíamos tocar, mas os dedos foram retidos por uma substância luminosa. Ele levou essa engenhoca aos nossos ouvidos; ela fazia um barulho incessante, semelhante ao de um moinho d’água. E conjecturamos que, ou é qualquer animal desconhecido, ou, então, o deus que ele adorava; mas esta última hipótese é mais verossímil, porque nos afirmou, (se nós assim o compreendemos, pois se exprimia muito imperfeitamente), que raramente fazia qualquer coisa sem que o consultasse; chamava-lhe o seu oráculo, e dizia que designava o tempo para todas as ações da sua vida.
Quem tiver interesse em saber mais sobre esse “procedimento literário”, pode ir direto aonde eu o descobri: aqui, e também, aqui.
Piada do Jorge Pontual no Twitter: “Se você receber um email intitulado: ‘Fotos nuas de Dilma Roussef’. Não abra!!! Pode realmente conter fotos de Dilma Roussef nua”.
Engraçada. De baixo nível, convenhamos. Mas engraçada.
Agora vem o pessoal do MSH (Movimento dos Sem-Humor) e começa a achar pêlo em ovo. Aqui, também.
Uma internauta, de apelido “Dani”, comentou no blog da Marjorie o seguinte: “Querida, Sou Brasileira, 30 anos, formada, trabalho, acho a Dilma feia e amei a tiradinha do Jorge Pontual. Sou sexista? Não voto em mulher por ser mulher, aliás, voto em competência e inteligência. Por Favor, antes de procurar pelo em ovo, se preocupe com o que estão fazendo com o dinheiro do povo.”
E a Marjorie: “não, você não é sexista simplesmente por achar a Dilma feia. Mas existe uma grande diferença entre ser uma pessoa comum que comenta isso no boteco e ser um jornalista renomado que decide publicar isso. Principalmente, se levarmos em conta que os candidatos homens não são tratados dessa maneira pelos jornalistas. E que a baixa participação feminina na politica brasileira se deve, entre outros motivos, ao fato de que muitas pessoas não levam as candidatas tão a sério.”
Bem-vindos à Fantástica Fábrica de Argumentos Rasteiros.
Eu, então, comentei na mesma linha da Dani:
Foi bastante baixo, o nível. Preconceito estético. Aquele velho problema dos padrões de beleza. Mas só.
Suponha que a Lilian Witte Fibe diga que “se você receber um e-mail que diz ter fotos do Boris Casoy nu, não abra! Pode realmente conter fotos do Boris Casoy nu”.
É sexista?
De novo, vendo pêlo em ovo, Marjorie.
A Marjorie:
eu prefiro uma campanha a favor do respeito a todos, feios ou bonitos. Em vez das pessoas ficarem se ridicularizando mutuamente, feito crianças do pré.
Se a Lilian falasse isso do Boris Casoy, não seria sexista (porque, oi, contexto, meu filho! A sociedade é machista. São as mulheres que são tratadas como se tivessem obrigação de ser bonitas antes de qualquer outra coisa, não os homens). Mas seria uma extrema falta de respeito. E eu condenaria da mesma maneira, afinal, é um comportamento que não cabe para um(a) jornalista.
E se você acha que eu só faço ver pêlo em ovo, não sei o que está fazendo aqui, sinceramente. Não se auto-flagele. Há milhões de blogs internet afora. Procure um que combine contigo.
Ah, o respeito.
Rrrrrespeito! Onde já se viu falar assim dos outros? Vai lavar a boca com sabão, Jorge Pontual! Principalmente por ter a profissão de jornalista! E quem vier aqui desmontar meus argumentos que vá pra outro blog!
Estamos falando aqui do horrível e velho politicamente correto, e da boa e velha falta de consistência lógica numa argumentação.
A piada do Jorge Pontual pode ser censurável sob diversos aspectos, menos o sexista.
A discussão não deve parar por aí.
E tem uma última: daqui a pouco, neguinho (meu deus, que medo de ser patrulhado aqui!) o pessoal tem que consultar livro de boas maneiras politicamente corretas para ver se pode ou não dar risada de uma piada qualquer. A fazer uma, então, ninguém vai se atrever.
I think I know the answer
I stumbled on and all the world fell down
And all the sky went silent
Cracked like glass and slowly
Tumbled to the ground
Zero Chance, Soundgarden, 1996
As aulas voltaram, a pós também. Algumas avaliações pela frente. Não gosto de ser avaliado. Não quando estou despreparado.
17 milhões de leitores, vocês serão agraciados com um mês de folga. Mas passem por aqui, de repente posto alguma banalidade.
Um dia pra celebrar a arte, a esperança, a vida. Beirut, São Paulo, Via Funchal, dia 11 de setembro de 2009.
Atenção: leitores interessados em coisas interessantes, fujam desse post.
A Marjorie Rodrigues tem um blog muitíssimo bem escrito. É um bom blog. Quem o lê sempre é a minha mulher. Fermenta a sua imaginação feminista. Dia desses aqui em casa, em mais uma discussão estéril sobre a problemática sem solucionática que envolve gêneros sexuais humanos, foi-me indicado um texto da Marjorie sobre o que o Marcelo Tas escreveu acerca do litígio da Juliana Paes contra o Zé Simão, que acabou proibido pela justiça de tocar no nome da atriz.
Enfim, o texto da Marjorie é muito ruim. Sua pretensa desconstrução crítica do texto do Tas é paupérrima. Cheia de falácias lógicas. Ad hominen, declive escorregadio, falácia de omissão. Fiquem à vontade, o menu é grande. A coisa não se sustenta. E pior: além de ser uma argumentação pobre, trata-se de uma patrulhagem das brabas. Tão carola com seu credo quanto uma reunião da TFP ou o comitê do partido comunista norte-coreano. Vejam por vocês mesmos.
Não resisti e deixei algumas palavras na caixa de comentário dela:
Essa carolice feminista me dá ânsia de vômito. Esse texto é coisa de patrulha. Quem sabe, se você estivesse no meio da contra-reforma, mandaria gente pra fogueira. Ou talvez mandaria pra Sibéria alguém que discordasse da doutrina oficial do partido. Só que nasceu num contexto diferente e se aferra a doutrina diferente
O comentário me rendeu uma mui honrosa indicação a Top Troll, ao lado de coisas ultra ofensivas, num post até bem humorado. Deixei outro comentário: “É uma honra”. Meio irônico, meio sério, pois é um bom blog. Fui citado lá. É uma honra. Votei em mim mesmo.
Meu comentário não apareceu. Depois, fui ver, nem o meu comentário original apareceu no lugar onde foi postado. Foi citado apenas em parte (como aí em cima) para ser ridicularizado. Aí vejo que a autora do blog respondeu à minha mulher (que concorda com ela) desse jeito:
gente, tô chocada aqui com os trolls serem amigos ou conhecidos das leitoras!
Bom, acho que o que falta para o seu marido é reconhecer que a sociedade dá a ele um privilégio, apenas por ser homem. Um privilégio de nascimento. Não é culpa dele individualmente — é a estrutura de poder da sociedade. Mas é lógico que isso é chato de se reconhecer. É chato a gente reconhecer que o nosso modo de vida, na outra ponta, prejudica os outros. É mais fácil a gente virar a cara para o outro lado. Fingir que não vê, fingir que não sabe. Mas, felizmente, sempre tem gente para chamar atenção para aquilo que vc não quer ver: “olha, vc tem privilégio. Olha, isso não é justo. Olha, vc precisa rejeitar esse privilégio e lutar com a gente”.
E aí as pessoas se sentem mei’ perseguidas. Pq não querem reconhecer ou abrir mão do privilégio. Querem simplesmente continuar vivendo suas vidinhas. No post do I Choose my Choice, teve um cara que fez um comentário ÓTIMO sobre isso. Ele disse algo mais ou menos assim: “as pessoas ficam: “buááá, eu não posso mais fazer piada de preto em paz? Vc tem que me lembrar que isso é racista? Buááá, me deixa socar uma pra esse gangbang em paz, preciso lembrar que a mulher ali mto provavelmente está sendo explorada?”. E por aí vai.
A gente tá cutucando a ferida. Toda vez que alguém diz “mimimi, estou me sentindo patrulhado”, eu penso: “missão cumprida”. Porque a gente tá aqui pra isso mesmo. Pra incomodar. Pra dizer que não basta virar o rosto e fingir que as coisas não existem. Ora, na prática, eu não posso fazer nada com o seu marido. Eu não posso puni-lo, não posso impedi-lo, não forçá-lo a nada. Nem quero. Na prática, ele continua tendo o seu privilégio, a sociedade continua machista. O lado mais fraco da corda SOU EU! Mas, se ELE se sente patrulhado, se ele se sente tão incomodado, é porque ele sabe que tem algo errado e não quer ser chamado a atenção para isso.
Eu comecei a ficar indignado. Quanta arrogância. Postei isso aqui, esperando não ser censurado:
Além de patrulheira não tem senso de humor e censura comentários?
Meu comentário, neste post, foi: "É uma honra." Recebi a indicação com bom humor. Votei em mim duas vezes (minha mulher, mais uma). Só que meu comentário não foi publicado. Acabei de ver que também não publicou meu comentário "troll".
Só corrobora aquilo que eu disse. Carolice sem tamanho. Patrulha. Não censure este aqui, pelo menos como direito de resposta. Coloquei meu nome e sobrenome, que você citou junto com meu comentário, mas que nem sequer indicou de onde veio, a qual post foi destinado. E também não citou na íntegra.
No post sobre Tas/Simão/Juliana (que é de onde veio o meu comentário), você enxerga pêlo em ovo, Marjorie. Seu filtro é tão forte, sua percepção da realidade é tão enviesada pelo posicionamento sexista, que em muitas coisas que não têm teor necessariamente sexista, mas que tratam de sexo e diferença de gênero, você identifica machismo e joga as pedras. E isso é o espírito de patrulha. Você o tem tanto quanto esquerdistas dogmáticos, cristãos e muçulmanos fervorosos, direitistas anaeróbicos. Reitero o que disse: a minha impressão é que, se você estivesse do outro lado, seria a primeira a "vigiar e punir".
Desça do pedestal e nunca assuma que você percebe a realidade de um ponto de vista superior a algum interlocutor, mesmo que você o considere um troll. Você o fez num comentário acima: "Bom, acho que o que falta para o seu marido é reconhecer que a sociedade dá a ele um privilégio, apenas por ser homem. Um privilégio de nascimento. Não é culpa dele individualmente — é a estrutura de poder da sociedade. Mas é lógico que isso é chato de se reconhecer. É chato a gente reconhecer que o nosso modo de vida, na outra ponta, prejudica os outros. É mais fácil a gente virar a cara para o outro lado."
É incrível como pode tirar essas conclusões apenas por meio de uma crítica ácida a um post seu. Sua postura é tão arrogante que me subestima completamente. Está tão, tão ciosa de seu filtro, de seu feminismo, que não enxerga o real problema que eu apontei: o problema é a carolice, não o feminismo. O problema é a patrulha, não textos inteligentes e desconstruções críticas. Com minhas limitações humanas, eu enxergo as "estruturas de poder" que me cercam, que me garantem privilégios por ser homem e me excluem por outros motivos. Adoro o jornalzinho feminista que circula na Unicamp, do PAGU. Estudo história da ciência e penso que um dos pontos nevrálgicos da coisa, que me dei conta há pouco tempo, é o bloqueio formal à atividade científica para as mulheres até bem pouco tempo atrás, e a contribuição silenciosa das mulheres durante séculos. Gosto das ideias da Donna Haraway, de suas posições intelectuais e políticas. Me identifico completamente com causas feministas, gays, negras. Não tenho problema nem com alguns radicalismos. Mas detesto quem enxerga pêlo em ovo, só porque se encaixa com seu filtro da realidade, como faz a Julia Kristeva em sua análise sobre a física de fluidos. Algo sem pé nem cabeça.
Selecionar e encaixar dados da realidade para satisfazer nossos modelos teóricos é mais fácil do que você pensa. É o que você fez no post sobre o Tas. Algo bem rasteiro. Não tão grosseiro quanto o que a Kristeva faz com a ciência, mas bem rasteiro. Coloca ideias na cabeça do Tas que não transparecem naquilo que o cara escreveu, nem nas entrelinhas. Reitero: não curto o Zé Simão (é copy and paste, mesmo). O Tas, pra mim, não cheira nem fede.
O feminismo, como ferramenta intelectual de ativismo e de desconstrução crítica da realidade, é e sempre foi necessário, legítimo, merece toda a propagação do mundo. A sua carolice, como aparece no post sobre o Tas, continua me dando ânsia de vômito. O duro é que você anda fazendo escola aqui em casa.
Espero que você não censure este, pelo menos este, comentário.
É uma honra, novamente, ser indicado como troll.
VOTEM EM MIM!
E não é que a babaca censurou? Justificou ainda mais a postura de patrulheira, de carola, de mané mesmo. Sente-se a justiceira do cyberespaço, a defensora do lado mais fraco, a ativista, aberta ao diálogo, mas não passa de uma autoritária fechada ao contraponto.
Começo a perceber que esse negócio de blogar é meio ridículo. Fala-se aos convertidos, somente. Exclui-se o outro. A não ser os blogs grandes, estes nossos amadores não suscitam debate porra nenhuma. Fica cada um com seu cordão de carolas puxa-saco, deusolivre. Se bobear, este blog aqui aproveita a deixa do Idelber e do Dória pra embarcar junto. Deu no saco.
Entrei em licença-torcedor. Não vou ao campo ver a Ponte. Não assisto jogo de time nenhum na TV.
O futebol aqui no Brasil é uma merda.
Gum é um zagueiro da Ponte. Ainda é, daqui a pouco sai. É um zagueiro bem mediano. Mas “bem mediano” é, para os padrões da Ponte nos últimos cinco anos, um craque. Então, a merda é a seguinte: o Fluminense ficou encantado com o futebol deste Baresi dos trópicos e decidiu levá-lo daqui para a série A, com uma oferta de pagamento em 8 (oito) vezes. Vejam bem, caros 17 milhões de leitores, o Fluminense perguntou se a Ponte aceitava Mastercard, sem juros no cartão ou cheque pré-datado, e a Ponte negou, claro. Mas o Gum ficou tão animadinho com a história toda que forçou a saída. Disse que não tinha mais cabeça para pensar no jogo contra o Bahia. E não jogou mesmo. Voltou para casa antes de todo mundo.
Renato foi um dos melhores jogadores do time vice-campeão paulista em 2008. Jogou um futebolzinho insosso no segundo semestre e acabou sendo negociado com um time da Arábia Saudita. A Ponte cometeu a suprema cagada de aceitar pagamento em três vezes, sem juros. Tomou no nariz. Recebeu a primeira parcela, mas não viu a cor do resto do dinheiro. O contrato de venda previa que o jogador retornaria à Ponte caso o restante do pagamento não se concretizasse. O principal site da torcida até fez um wallpaper meloso, baba-ovo: “Renato, volta, a camisa 10 é sua”. Renato, então, voltou para o Brasil. Para o Grêmio. Andou treinando por lá enquanto um imbróglio jurídico se desenrolava. A justiça trabalhista determinou que Renato voltasse para a Ponte. A CBF obedeceu, a princípio, negando a inscrição do meia(boca) ao Grêmio. Agora, sabe-se lá cedendo a quais pressões políticas, a maldita CBF autorizou a entrada de Renato no time gaúcho. E a Ponte, agora, é quem pode se foder. A coisa é bem conhecida, mas continua absurda: time de futebol nenhum pode recorrer à justiça comum para resolver suas pendengas. Como assim, compadre? Quer dizer que as federações futebolísticas vivem num outro mundinho apartado da nossa realidade? Pelo amor de João Havelange!
Enquanto isso, qualquer bom jogador que aparece no time acaba indo ou pro Corinthians, ou pra algum time da aristocracia ludopédica brasileira. Que são apenas trampolins para a NBA Europa. Os torcedores de time grande sentam em cima da glória de um Campeonato Brasileiro, uma Copa do Brasil, até uma Libertadores, achando que estão curtindo algum tipo de coisa diferente do que quem torce para a Ponte, Guarani, Figueirense, Vila Nova, Remo, Tuna Luso, Íbis. Todo mundo é pária aqui, manés!
A Globo passa jogos do Corinthians em vez das finais da Libertadores, com volume de som editado para a torcida do Timão visitante parecer mais forte, mais louca, mais fiel que as outras. Às vezes, dá atenção a um outro grande, usando os mesmos artifícios para promover a identificação entre o telespectador e o seu time. Os jogadores ficam ouriçadinhas, louquinhas, maluquinhas só de ouvir as propostas do pimps europeus. O próprio Corinthians, que vinha tendo um time interessante de se assistir, um belo acompanhamento para cervejas e pipocas, foi desmontado. Virou uma chatice.
Pior: nem pra secar o Guarani dá mais. Tenho dó, vai perder o estádio, que já foi um belo estádio, patrimônio histórico, e a torcida míngua mais rápido do que a da Ponte. Me peguei pensando que seria muito bom que ambos os times subissem, que ambos estivessem bem. Foi aí que eu percebi que não tinha mais saco para futebol. Não pra esse futebolzinho sem-vergonha aí.
Desisto.
Ontem, Stephen Colbert entrevistou o cosmólogo Mark Devlin, com as perguntas cretinas de sempre. À afirmação citada abaixo, no player, Colbert retrucou: podemos dar Viagra à nossa galáxia? Devlin explicou que o Viagra vai vir daqui a alguns bilhões de anos, quando a Via Láctea e Andrômeda colidirão, o que vai despertar um novo frenesi de formação de estrelas (aliás, a cosmologia moderna diz, e o Hubble foi capaz de provar, que colisões de galáxias são coisas corriqueiras).
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Mark Devlin | ||||
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Devlin estrela um documentário sobre o projeto científico que ele próprio encabeça, o BLAST (Balloon-borne Large-Aperture Submillimeter Telescope), que investiga galáxias muito distantes (7-10 bilhões de anos-luz) usando um telescópio levado a altas altitudes por uma espécie de balão meteorológico.
Perdão pelo trocadilho, mas esse documentário deve ser um estouro.
Junto à corrida armamentista e espacial, uma outra disputa entre EUA e URSS era travada sem estardalhaço: a "corrida para inventar a Rede". A Central Intelligence Agency (CIA) havia chegado à conclusão alarmante de que os russos estavam prestes a superar os Estados Unidos no desenvolvimento de máquinas e programas, construindo uma rede de computadores que operasse a defesa aérea de Moscou em 1956. Barbrook mostra que a disputa não era apenas pela construção da grande rede, mas, principalmente, pelos fundamentos que a guiariam e as possibilidades de reorganização social que ela abriria. Sob o reformismo de Kruschev, cientistas da computação russos passaram a ver na ideia de rede uma redenção libertária que verdadeiramente fizesse jus aos ideais comunistas da revolução de 1917, sufocados por Stalin. Mas essa espécie de mcluhanismo marxista logo foi esmagada pela volta do autoritarismo ao poder. Com o fim do reformismo e a desventura do projeto libertário da rede russa, a União Soviética acabou entregando o jogo do futuro imaginário de bandeja para o outro lado.
Nos EUA, o governo exigiu que se inventasse a internet antes que os russos o fizessem. O objetivo era garantir o controle e hegemonia do país sobre a profetizada sociedade da informação. Nas entrelinhas do discurso da Uniesfera, o que não podia ser claramente dito: a aldeia global seguiria o modelo apontado pelos Estados Unidos. O projeto era financiado pelo Departamento de Defesa e tinha também uma clara função militar: manter o controle e as estruturas de poder com uma rede que sobrevivesse a um ataque devastador. No entanto, a arquitetura da internet foi toda projetada nos moldes de um comunitarismo acadêmico-científico, cuja produtividade precisa do compartilhamento, e não da propriedade comercial do conhecimento. Essa estrutura aberta, descentralizada, era financiada pela estrutura hierárquica e autoritária dos militares.
Esse aparente paradoxo é desvendado de maneira brilhante por Barbrook e constitui o grande mérito de Futuros imaginários. Para ele, como para os líderes mais sensatos das duas superpotências, a Guerra Fria nunca seria decidida pela força bruta. A “força suave” da disputa no campo cultural, simbólico, poderia ser uma arma mais devastadora do que uma bomba atômica. O embrião da internet da década de 1960 era um produto do que Barbrook chama de “esquerda da Guerra Fria”, formada por intelectuais americanos originalmente de esquerda, muitos ex-trotskistas. Com a histeria anticomunista e a radicalização do debate, o marxismo passou a ser sinônimo de stalinismo, ser de esquerda era ser antipatriótico. A “esquerda da Guerra Fria” passou a defender uma alternativa tanto ao liberalismo econômico quanto ao stalinismo, pregando um capitalismo do bem-estar social. Com o Partido Democrata no poder, essa “esquerda” começou a atuar com muita eficiência como “força suave” contra o comunismo, denunciando as falhas do sistema soviético e acolhendo o mcluhanismo de braços abertos.
Feridos pelas críticas da contracultura nos anos 1970, esses intelectuais penderam para o neoliberalismo. Se para a contracultura a internet era um embrião do “comunismo cibernético”, para os novos liberais ela seria a epítome da sociedade da informação e do livre mercado. Porém, enquanto a prometida sociedade da informação vai sendo gestada, o poder fica nas mãos de uma nova elite: a classe do conhecimento e da inovação tecnológica, cuja morada é o Vale do Silício. Como há quarenta anos, o futuro computadorizado está logo ali, mas nunca vai chegar.
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Só para confirmar a ideia de que o Sistema Solar é uma pancadaria digna de Buddy Spencer e Terence Hill, há uns quinze dias Júpiter levou uma pancada similar à de 1994, causada pelo cometa Shoemaker-Levy. Ninguém, nos programas de levantamento de asteróides, detectou o bicho dessa vez. A descoberta foi feita por um astrônomo amador. O que levantou uma certa desconfiança nos Estados Unidos: será que a NASA está fazendo o trabalho direito?
Talvez em resposta a isso, o JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Caltech colocou online, no último dia 6, o site Asteroid Watch. O levantamento amplo de objetos como asteróides e cometas que vagam pelo sistema solar e às vezes entram em sua parte interna (exatamente onde estamos) é umas das coisas mais importantes que a ciência espacial pode fazer. A maioria das pessoas descarta esse tipo de coisa como viagem de fã de sci-fi que leva filmes como Impacto Profundo muito a sério. Podem estar todos os nossos pobres pescocinhos, neste exato momento ou, mais provavelmente, em algum ponto da história das gerações futuras, na linha de tiro de um asteróide ou um cometa. Eu não consigo achar muitas outras coisas que sejam tão importantes e que deveriam estar no centro das agendas científicas.
Mais conhecido como Magnetic Fields, Les Chants Magnétiques é o quinto álbum de Jean Michel Jarre, lançado em 1981. Dos que eu conhecia até agora, é o terceiro. Está aqui, na íntegra, a quem possa interessar.
(Se o Sr. Jarre ou algum procurador se sentir ofendido pela distribuição gratuita, favor contactar-me para apagar o link, o que farei com o maior prazer, não sem antes fazê-lo(s) ouvir algumas coisas sobre a falta de publicação dessas obras aqui no Brasil, tornando o preço de importação proibitivo. Eu tenho esse disco em vinil e, portanto, detenho legalmente o direito de ouvir essa bagaça há, deixa eu ver… 20 anos!)
Les Chants Magnétiques é um dos favoritos da infância, redescoberto há pouco tempo, embora tenha pequenas passagens que eu não entendia quando tinha 8 anos e que continuo não entendendo. O miolo da longa primeira faixa é um mero intervalo entre a introdução e a terceira parte, brilhantes. Para a terceira faixa, o francês figuraça deveria nos indicar o quê ele estava fumando quando a compôs. A última é uma rumba bonitinha, legal demais, mas é um final tão excêntrico e fora de órbita que me permanece um místério completo. Vamos ao que interessa.
A segunda faixa é uma obra-prima dos primórdios da música eletrônica como arte pop. Típico Jarre. Vendeu dezenas de milhões de discos pois, além de grande artista e compositor, sempre teve um afinadíssimo ouvido comercial. Hoje, não tocaria numa rádio nem a porrete, mas em 81 chegou a #6 nas paradas britânicas com a brincadeira.
A número quatro é uma mistura de melancolia e esperança que parece ser uma marca registrada de Jarre. Essas duas palavras, melancolia e esperança, mesmo que, juntas, pudessem dar forma a um terceiro sentimento, não seriam o suficiente para Les Chants Magnétiques IV. Leonard Bernstein tinha razão: a música pode nomear o inominável e comunicar o inconhecível.
A primeira parte da faixa de abertura tornou-se uma das mais conhecidas da carreira de Jarre, obrigatória em qualquer show. É ótima essa primeira parte, de fato, seguida de uma chapação pelas galáxias do espaço sideral que culmina na seção mais genial de todo o disco. Quando eu punha a bolacha no meu três-em-um Phillips e queria ouvir exatamente essa música, procurava pela parte menos escura, mais pro fim da faixa, e tacava lá a agulha. Com cuidado. Se bobeasse, dava aquele zzzzziiipp que doía na alma. Sorte que eu havia treinado bastante com Thriller, do Michael Jackson. Ele não sobreviveu. O disco, não o Michael. Quer dizer, bem, deixa pra lá. Tá aqui embaixo este que é o trecho mais brilhante de todos os campos magnéticos:
Uma coisa que eu nunca tinha me ligado: de um lado da capa do vinil está escrito “Les Chants Magnétiques”, do outro, “Magnetic Fields”. Sempre pensei que se tratava de mera tradução. Qualquer ignorante em francês, como eu, sabe que campos não é chants, mas champs (Champs Élysées!), mas passei batido nessa por 20 anos! O título em francês contém uma ambiguidade legal, pois chants e champs são palavras homófonas. Em inglês, ou em qualquer outra língua, perde-se a possibilidade de jogar com “campos magnéticos” e “canções magnéticas”.
Quem sabe eu me animo, mais tarde, a fazer um post sobre Rendez-Vous.
Atualização:
Achei esse vídeo raro dos concertos na China, também em 81, que deram origem a um álbum ao vivo, clássico, do Jarre. Não sei vocês, mas eu vejo em cada segundo aí a expectativa de um futuro, a esperança de profetizar um porvir mecânico, robótico e computadorizado. O futuro de 1981:
(batera moendo)
O telescópio espacial Kepler, cujo objetivo é caçar planetas extrasolares rochosos, deu uma amostra de suas capacidades, hoje. Para testá-las, o pessoal da NASA examinou um exoplaneta já conhecido, HAT-P-7b, um “Júpiter quente”. A órbita desse gigante gasoso é tão próxima ao seu sol, que leva apenas 2,2 dias para ser completada. O Kepler conseguiu distinguir algumas coisas sobre a atmosfera do planeta, inclusive sua temperatura diurna: 2377 ºC. Segundo a NASA, essa descoberta “demonstra que Kepler tem a precisão para descobrir planetas do tamanho da Terra”.
Começou a era da caça às outras Terras.
O radioastrônomo Seth Shostak, do programa SETI, lançou há uns três meses o livro Confessions of an Alien Hunter: A Scientist's Search for Extraterrestrial Intelligence e foi apresentá-lo no Colbert Report, possivelmente o melhor programa de humor televisivo do Sistema Solar. Pense numa fusão de Diogo Mainardi com Reinaldo Azevedo, dê-lhe bastante senso de humor e terá Stephen Colbert, a caricatura de um apresentador ultra-reacionário. Entrevistando Seth, ele arruina, como de praxe, qualquer possibilidade de sabermos alguma coisa de interessante sobre o entrevistado, com coisas do tipo:
Colbert: Eles podem não existir, e nesse caso sua vida não tem sentido! Você pode estar mijando contra o vento.
Shostak: Dentre um trilhão de planetas, muitos serão inúteis, mas alguns podem ser algo como a Terra, a não ser que isso aqui seja um milagre. Se você acha que isso aqui é um milagre…
Colbert: (interrompendo) Eu acho sim que isso aqui é um milagre! Criado por Deus em seis dias, amigo. Isso é o que eu chamo de milagre!
Ou, melhor ainda:
Colbert: Como vocês fazem para buscar os ETs?
Shostak: Usamos grandes antenas. Nós fazemos o que a Jodie Foster fez no filme “Contato”.
Colbert: Representar? Representar e tentar ser atraída por Matthew Mcconaughey?
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É interessante notar que algumas das críticas jocosas de Colbert são feitas a sério por parcela considerável da comunidade científica. A última bolacha do pacote da divulgação científica, Michio Kaku, considera a ideia por trás do SETI algo bobo. A equação Drake não apenas é alvo de desconstruções críticas implacáveis como já virou piada. O SETI depende de uma grande carga de romantismo e idealismo, pra não dizer de devaneios da imaginação de seus criadores, Carl Sagan entre eles.
Mas, pensando bem, e daí? A ciência nunca deve ter totalmente os pés no chão. Ela se alimenta de sonhos. Já fui mais entusiasmado com o SETI, mas é impossível deixar de ser simpático ao programa. Continuemos torcendo para que o SETI não permaneça apenas uma bela ficção.
Edit 22h: teve gente que achou que o Colbert fala essas coisas a sério, que é um reaça de verdade. Colbert, na verdade, personifica uma sátira a alguns jornalistas reacionários (principalmente, Bill O´Reilly) da mídia de direita nos EUA, como a Fox News.
Descoberta desta manhã de domingo:
A história da dupla, segundo a Wiki: são da Cidade do México, onde formaram a banda Tierra Acida. Insatisfeitos com a cena musical na terra natal, os dois zanzaram pela Europa e se estabeleceram em Dublin. Alcançaram o sucesso. Abriram show em Wembley pro Muse, apareceram no Jools Holland, ganharam espaço na MTV americana, foram tocar no Letterman.
Tierra Acida era uma banda de thrash metal. Entre as influências listadas por estes dois grandes instrumentistas, estão Metallica, Megadeth e Slayer. Do Metallica, tocam Master of Puppets, Battery, One e a obra-prima do baixista Cliff Burton, Orion, uma das músicas mais bonitas já feitas, que você vê abaixo.
(clique aqui para o áudio da versão completa, em todo o seu esplendor)
Cliff teria ficado absolutamente extasiado.