29 de outubro de 2007

Mickey contra Hitler

Há uns bons anos eu havia achado, não lembro onde, não lembro como, um vídeo que mostrava o engajamento político de Walt Disney da forma mais clara possível - mais até do que no papel exercido durante o período da imperial "política da boa vizinhança". Era o curta Education For Death, peça de propaganda que difamava o regime nazista para o público infanto-juvenil, justamente num período de grande mobilização do esforço de guerra norte-americano.

Guardei aquela raridade num backup que sumiu como todos os backups estão fadados a sumir: sem motivo aparente e sem paradeiro nesta dimensão. Mas Deus, Allah, Shiva e Oxalá fizeram o YouTube, e viram que o YouTube era bom. E graças ao YouTube, cá está Education For Death em alta resolução e legendado.



Talvez ninguém reclame do teor do video, já que trata-se, afinal, do regime nazista. Mas dá pra imaginar o sutil estrago ideológico que uma máquina como a Disney fez ao longo de décadas. Hoje, no entanto, longe da influência direitista engajada de seu fundador, a Disney está quietinha no seu canto.

Créditos das legendas: Triviale blog. Vale a visita.

22 de outubro de 2007

"Tienen lo que merecen"

Qualquer comentário sobre a improvável decisão da F1 de ontem não fará justiça ao que aconteceu dentro (e fora) da pista. Mas deixo aqui um trecho da sóbria, equilibrada e imparcial cobertura do diário espanhol As:

Un justo castigo - Ron Dennis y su banda tienen una justa recompensa: se han quedado otra vez sin títulos mundiales. No ganó Alonso, pero al menos tampoco lo hizo quien menos lo merecía. La ridícula obstinación de Hamilton le costó el campeonato.

Dr. Evil e Mini-me

17 de outubro de 2007

Jornalisteenha

Eis um exemplo de leviandade jornalística.

Quem lê a Folha de São Paulo sabe que toda segunda-feira circula um caderno voltado para o público adolescente, o Folhateen. Quando eu era teen, eu lia o Folhateen. Hoje, é óbvio, não o leio mais. Não tenho mais saco pra ficar com raiva do Álvaro Pereira Júnior ou pra rir da seção de cartas dos leitores. Entretanto, em busca de textos que repercutiram a forma e o conteúdo do novo álbum do Radiohead, me deparei com a infeliz, apressada e desinformada crítica de Leandro Fortino. O texto, de título irônico e subtítulo agressivo (Radio free - As dez faixas de "In Rainbows" podem sair de graça; na opinião do Folhateen, elas não valem mais do que isso) foi publicado no Folhateen desta última segunda-feira, dia 15, e só pode ser acessado por assinantes da própria Folha ou do UOL. Mesmo assim, reproduzo-o aqui, na íntegra, até que a Folha da Manhã S. A. ameace processar-me. Assim, aqueles dentre vocês, meus 17 milhões de leitores, que quiserem apreciar esta obra-prima da crítica musical em todo o seu esplendor, poderão ficar mais à vontade. Diferentemente de In Rainbows, para ter acesso a esta crítica seria imperativo que o leitor pagasse. Talvez isso não seja mera coincidência.


No mundo capitalista de uma banda rica como a inglesa Radiohead, nem
relógio trabalha de graça. Portanto é bem suspeita a estratégia de venda de
músicas pela internet armada pelo grupo na quinta passada, quando eles começaram
a oferecer, pelo preço que o freguês mandar, downloads de dez faixas que estarão
em seu ambicioso novo trabalho, "In Rainbows".

Além dessas músicas, o pacotão completo, que sai em dezembro, também trará dois discos de vinil (alguém ainda tem onde tocá-los?), um livro e mais um CD, com nada menos que oito faixas, essas, sim, com algum material inédito mesmo.

Isso porque todas as músicas disponibilizadas na semana passada já haviam sido tocadas diversas vezes em shows desde o final dos anos 90. E há tempos já rodavam no YouTube. É estranho que essas canções nunca tenham entrado nos CDs da banda. E, não há como negar, espera-se que artistas só selecionem músicas boas para integrar um disco, abandonando o que ficou mais ou menos.

Então, que tal oferecer o material mais ou menos -e de difícil aceitação (as músicas são densas, experimentais e minimalistas)- para que os fãs, comovidos com a atitude "honesta", paguem felizes por ele? Alguns devem até ter encomendado pelo site o pacotão, que sai em dezembro. Custa, sem choro, 40 libras (R$ 148). Lembre-se de que com essa quantia, compra-se muito menos coisas na Inglaterra do que aqui (40 libras equivalem a cerca de 40% do salário mínimo no Brasil), o que mostra que o Radiohead parece não estar nem aí para países mais pobres.

A banda já sofreu com a pirataria. O disco anterior, "Hail to the Thief", de 2003, caiu na rede e no ouvido do mundo todo muito antes de estar totalmente finalizado. Ou seja, os fãs deles não gostam de pagar por músicas e nem ligam se os downloads são ilegais. E é certo que o CD bônus estará ilegalmente na internet logo, logo.

Assim, será que a banda acredita que ninguém vai baixar o pacote sem pagar nada? Afinal, as dez faixas podem sair de graça, conforme o Folhateen comprovou. Talvez seja isso o que o download de "In Rainbows" valha.


Eu poderia perder meu começo de manhã destruindo cada um dos irônicos argumentos depreciativos ao Radiohead (e, pior, à iniciativa tomada pela banda) dessa crítica rasa, débil e incoerente. Não vou fazê-lo, assim como não vou ficar respondendo aos ridículos argumentos periféricos do texto. Mas uma resposta pontual é necessária.

Se o crítico não gostou do álbum e achou que o trabalho da banda vale literalmente nada, tem todo o direito de expressar-se nesse sentido, e com a contundência que desejar. Isso não é problema. O que um crítico jamais poderia fazer é basear seus argumentos em fatos falsos e/ou distorcidos. É preciso zelar minimamente pelo embasamento daquilo que se escreve, seja ao escrever um blog ou uma crítica para a Folha - com a diferença de que os leitores pagam pela Folha e Fortino recebe um salário para escrever. E estamos falando do maior jornal do país. É preciso cuidado extremo para não cair na leviandade, portanto.

A crítica de Fortino é, justamente, leviana. Seu argumento-chave é baseado em premissas falsas. Vejamos.

Fortino insinua que a iniciativa do Radiohead é um engodo. E por quê? Porque "todas as músicas disponibilizadas na semana passada já haviam sido tocadas diversas vezes em shows desde o final dos anos 90" e "há tempos já rodavam no YouTube". Defende que as dez músicas de In Rainbows seriam algo conhecido como lado B, sobras ou nem isso. Como sobras, as músicas de In Rainbows não seriam as "boas", mas as "mais ou menos". Então a banda teria lançado um download gratuito de "material mais ou menos" no intuito de comover os fãs e lucrar com a venda do discbox, que inclui um CD bônus com oito faixas, "essas, sim, com algum material inédito mesmo".

Essa argumentação revela falta de cuidado, preguiça, pressa, generalização pobre e arrogância.

Muito ao contrário do que Fortino quer fazer crer, das dez músicas de In Rainbows, apenas uma (isso mesmo, uma) foi tocada em shows no final da década de 90. Trata-se de Nude, que fazia parte constante da turnê do Ok Computer, segundo a revista Rolling Stone. Nenhuma outra faixa data desse período ou de fase anterior. Além de Nude, a única que não foi composta em sessões posteriores a Hail to the Thief (de 2003) é Reckoner, que vem das gravações de Kid A e Amnesiac (2000/01), e mesmo assim é difícil encontrar qualquer semelhança entre a Reckoner antiga e a versão de In Rainbows. Enfim, as outras oito músicas são material inédito, nada requentado.

Fortino erra a mão até mesmo quando diz que as oito músicas bônus são, "essas, sim", inéditas. Nem todas o são. É o caso de Last Flowers, que data da mesma época de Nude, e Up on the Ladder, que, como Reckoner, vem das sessões do Kid A. O resto, também, é material inédito. O aproveitamento de material antigo é algo recorrente no meio musical. É algo que o próprio Radiohead já fez. E mesmo assim foram apenas quatro músicas assim aproveitadas, duas delas no disco bônus. Todo o resto remete a composições de 2005 pra cá.

Mas alguém poderá dizer que a quase totalidade das músicas, tanto do prato principal quanto da sobremesa, poderia ser encontrada há mais de um ano no YouTube. Sim, é verdade. Trata-se de shows, apresentações gravadas pelo público e, pelo público, tornadas públicas. Como a maioria das bandas que conheço, o Radiohead aproveita os shows para testar a recepção da platéia ao material novo. Desde maio de 2006, a maioria das músicas de In Rainbows foi tocada ao vivo. As músicas já eram relativamente conhecidas, o que não anula seu ineditismo. Por acaso o disco Busted Stuff, da Dave Matthews Band, era material requentado quando foi lançado em 2002 apenas porque suas músicas já vinham sendo tocadas em shows desde 2000? Por acaso alguém vai dizer que Tropa de Elite é um filme requentado porque vazou digitalmente meses antes de estrear no cinema?

Embora a questão esteja evidentemente morta, a referência ao YouTube me traz a um ponto interessante: de onde, então, Fortino tirou a informação que baseou toda a sua argumentação? Minha hipótese é a seguinte: há umas duas semanas atrás, a Rolling Stone publicou um preview de In Rainbows, cujo link foi indicado há alguns posts por este blogueiro que vos fala. E lá, acha-se a informação de que Nude e Reckoner (e mais as outras duas do cd bônus) são faixas "antigas". Quase todas as músicas (menos as que não haviam sido tocadas ao vivo, ainda) estavam ali representadas por videos, hospedados pelo YouTube, de apresentações gravadas por fãs. Fortino estava claramente imbuído de preconceito e má-vontade com relação ao que cerca o Radiohead, o que torna-se flagrante na ridícula, tenebrosa e generalizante passagem "os fãs deles não gostam de pagar por músicas e nem ligam se os downloads são ilegais". Provavelmente, fez uso do review da Rolling Stone para tirar alguma informação sobre o lançamento. À primeira fumaça de que tudo poderia ser um grande engodo (o fato de algumas poucas músicas serem "requentadas"), achou que houvesse um grande incêndio ("o álbum todo é feito de sobras"). Pesquisou mal, muito mal.

Seja como for que chegou às suas (falsas) conclusões, o certo é que Leandro Fortino merece, no mínimo, que um e-mail de alerta para suas práticas de jornalismo barato seja enviado à direção do Folhateen e da Folha. É o que vou fazer entre hoje e amanhã.

Como o próprio Radiohead sabe, o In Rainbows pode mesmo não valer nada, nem um centavo. Já o jornalismo demonstrado por Leandro Fortino nesse infeliz texto de segunda-feira tem o seu valor: barato, baratinho, uma pechincha.

16 de outubro de 2007

Eleições 2007

Flávio Gomes tomou uma pancada na rua com seu carro "titular" e agora vai ter que lançar mão de um de seus velhinhos de coleção para se locomover até Interlagos. Para tanto, convocou eleições gerais em seu blog. A coisa já está no segundo turno. Candidatos promissores como o Corcel II e a Variant ficaram de fora. A vaga no estacionamento de Interlagos e a honra de ter a credencial grudada no pára-brisa serão disputadas a tapa pelo "social-democrata" Gol GT e pelo "marxista-leninista" Lada.

Algumas características dos candidatos, segundo o próprio jornalista:

Gol: "Movido a álcool. Câmbio escalonado. Velocímetro só funciona quando eu lembro de dar um tapa no lado direito do painel."

Lada: "Direção mecânica que funciona como aparelho de ginástica para bíceps. Cinco marchas e alavanca de câmbio aquecida. [...] Tampa do porta-luvas de abertura automática em pisos irregulares."

Inacreditável.

Ah, e eu votei no Lada. Todo o poder aos sovietes!

13 de outubro de 2007

11 de outubro de 2007

Primeiras opiniões

De Pete Paphides, do The Times, sobre In Rainbows: "For what it’s worth, In Rainbows was sent to me at 6.30am. Three hours later, this insidious index of sonic surprises is stacking up in my mind, like planes waiting to land. The trick, I guess, is to give your fans what they didn’t know they wanted. Radiohead, old hands at this, have been doing it for over a decade now. With In Rainbows, they appear to have done it again."

"O truque [...] é dar aos fãs" não aquilo que eles não esperavam, mas "o que eles não sabiam que queriam". Interessante ponto de vista. Paphides pagou 9 libras pelo disco. Mais do que isso, diz ele, o encaixaria no perfil de fã. Paphides também comprou o discbox de 40 libras. Tem bom humor, o crítico.

Clique aqui para ler a crítica na íntegra.

Por enquanto

O que posso dizer de In Rainbows, por enquanto? Que você ouve o CD e já quer ouví-lo logo em seguida. Tem o tempo perfeito pra que seja executado várias vezes sem enjoar. É mais uma virada de estilo dentre as inúmeras arriscadas pelo Radiohead, com improváveis pinceladas retrô. Posso dizer que são mais algumas músicas geniais. E que já espero ansiosamente pelas outras oito músicas.

PS (para Thom Yorke e o pessoal do Radiohead):

Thom, pessoal, parem com isso, tá ficando chato. Vocês precisam lançar um álbum ruim algum dia. Não é possível que não errem a mão em um único disco...

10 de outubro de 2007

Enfim!

In Rainbows chegou.

Agora!

Download -> AQUI!

Primeiras impressões ainda hoje.

Stay tuned.

PS: Tomei a liberdade de subir o arquivo num servidor. O Radiohead nunca reclamaria disso.

7 de outubro de 2007

I believe in miracles

E Deus, o Bernie Ecclestone do céu (só que com menos poder), respondeu a Fernando Alonso: "Você quer um milagre? Eu te dou um clima imprevisível. O resto fica a cargo dos seus próprios adversários."

Me veio à mente a voz tosca e inesquecível de Joey Ramone: "Oh, oh, I believe in miracles".


Alonso: "Allah akhbar! Allah akhbar!"

6 de outubro de 2007

27 (quase 1)

Clique na imagem para ampliá-la.
Nós somos o pálido ponto azul à esquerda, entre os anéis.



27 anos terrestres. 27 voltas ao redor do Sol, a bordo desse pontinho flagrado pela Cassini à esquerda de Saturno.

27 é apenas um número, e 27 anos, uma representação. As representações têm impacto sobre o real: sinto a pressão do número para me vestir com a roupa da maturidade. Isso, é claro, parte do ponto de vista terrestre. Porque, a olhos saturnianos, ainda não completei um mísero ano. Minha existência só vai equivaler a uma revolução saturniana quando atingir meus 29 anos e meio.

Sou um bebê. Aliás, bebês somos todos nós. O resto é farsa.

4 de outubro de 2007

Preview

Morto(a) de curiosidade sobre o novo disco[sic] do Radiohead?

A Rolling Stone publicou um preview "faixa-a-faixa", com vídeos ao vivo de quase todas as músicas de In Rainbows (e também do disco bônus, que só estará disponível em dezembro, época em que será lançado o discbox).

Eu sei que há quem prefira guardar todas as surpresas para o dia 10. Eu vou guardar algumas, já que ouvi uma parte do novo material há um certo tempo. É o caso de Videotape, já velha conhecida, e da fantástica Arpeggi.

Vai, assista. Não vai doer. Quer dizer, dói sim. Já disse Dave Matthews: "ou esses caras sofreram, ou fingem como ninguém".

Radiohead - Arpeggi


In the deepest ocean
Bottom of the sea
Your eyes
They turn me
Why should i stay here?
Why should i stay?
I'd be crazy not to follow

No oceano mais profundo

No fundo do mar
Seus olhos
Eles me ligam
Por que eu deveria ficar aqui?
Por que eu deveria ficar?
Eu seria louco se não seguisse

O subtítulo de Arpeggi é weird fishes, peixes estranhos. Saca?

1 de outubro de 2007

In Rainbows

In Rainbows
In Rainbows
In Rainbows
In Rainbows
In Rainbows
In Rainbows
In Rainbows

Dia 10 de outubro.


Na página de download, onde se espera que haja um preço, há um espaço em branco, seguido de um ponto de interrogação. Ao clicar nele, recebo a seguinte mensagem: it´s up to you.

Um sonoro e gigantesco PONTO DE EXCLAMAÇÃO.

De onde você vem?