30 de julho de 2007

Sunshine

NASA/ESA - O Sol, 5 de novembro de 1997.


Uma pessoa decide ficar acordada até que o sol se mostre.

Os primeiros raios aparecem, Vênus aparece. À medida em que o céu se torna azulado, pessoas protegidas do frio saem de suas casas em busca de algo. Todas parecem apressadas. As felizes buscam um sonho. As tristes, só o sustento.

Todas essas pessoas caminham rumo ao sonho, ou sustento, como máquinas. Seus corpos obedecem a comandos automáticos enquanto suas cabeças estão um pouco longe - estão lá no sonho, e no sustento. O cotidiano lhes preenche toda a imaginação. Formigas marchando.

Não percebem, esses pobres animais, que algo muito maior acontece, algo muito mais fantástico e inacreditável do que aqueles sonhos absurdos em que se permitiram sonhar de fato. O Sol, força impensável da natureza, está começando a aparecer no horizonte e a mostrar seu encanto difícil de encarar, mas impossível de se desviar.

Os oprimidos pelo grande relógio continuam marchando, alheios ao espetáculo diário que faz sentir o tempo, a distância, a infinitude, a transitoriedade. Perdidos nos momentos de divagação cotidiana que lhes parecem eternizar a alma, esquecem-se do Sol e da própria angústia de quem vive: a morte. Vivem num mundo de sonhos, um modestíssimo mundo de sonhos.

O sol, então, já aparece por completo. Ele é um dentre muitos trilhões de pontinhos nessa existência toda. As estrelas não dão a mínima pra nós. Perto desses titãs, nossa vontade de potência é uma piada e o tempo que temos para viver é imensuravelmente exíguo. O tempo que temos para viver o que desejamos, então, é menor ainda.

O sol nos lembra que temos que viver o que desejamos viver. Ele pode se dar ao luxo da solidão por bilhões de anos - nós, não. Somos breves suspiros da natureza. Suspiremos alto, portanto. Imensamente alto.

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