Quando a nave Voyager 1 estava há mais ou menos 6,5 bilhões de kilômetros distante de nós, Carl Sagan propôs que suas câmeras fossem voltadas para o sistema solar.
Um dia desses, há mais de um ano, a Aline sugeriu que eu ouvisse Muse, uma banda que ela amava. Assim, via MSN, despretensiosamente. Subitamente, virei um adicto do rock cósmico de Matthew Bellamy.
Depois de um hiato de quase dez anos, Aline apareceu novamente. Foi a minha vez de ter o prazer de apresentá-la (e viciá-la) a uma banda que amo: Dave Matthews Band.
Quando pensava não dever mais nada à professora londrinense mais mana e pontepretana de Campinas, eis que me encontro em débito novamente. Ouvi Massive Attack.
Mais uma vez, o distanciamento é a ferramenta para entender quê raios estamos fazendo aqui, nesse mundo, nesse cosmos, vivendo e morrendo. Com vocês, Arthur Schopenhauer, em trecho de "Da Morte", um capítulo do clássico "O Mundo como Vontade e Representação". É um texto que pede para ser saboreado lentamente.
Não há maior contraste do que aquele entre a fuga irresistível do tempo, que arrasta consigo todo o seu conteúdo, e a imobilidade rígida da realidade existente, sempre única e a mesma em todos os tempos. E se, desse ponto de vista, vemos bem objetivamente os acontecimentos imediatos da vida, o Nunc Stans* nos aparecerá visível e claro no centro da roda do tempo. - Para um olho que vivesse incomparavelmente mais e fosse capaz de abarcar o gênero humano em toda a sua duração, num só olhar, a sucessão contínua de nascimento e morte se manifestaria apenas como uma vibração incessante: não lhe ocorreria ver aí um devir perpétuo vindo do nada e para o nada; mas, assim como para o nosso olhar a faísca, em uma rotação muito rápida, tem para nós o efeito de círculo imóvel, do mesmo modo a mola, vibrada rapidamente, como um triângulo fixo, e a corda que oscila, um fuso, assim também a espécie lhe apareceria como a realidade existente e permanente, e a morte e o nascimento, como vibrações.
* Essa expressão em latim refere-se a um "presente eterno", ou um momento presente que não se articula temporalmente, no qual não há distinção entre o agora, o antes e o depois.
Agora, a distância pode ser aplicada como um antídoto para as máscaras humanas. Trecho chave de "Metafísica do Amor":
Toda paixão, com efeito, por mais etérea que possa parecer, na verdade enraíza-se tão-somente no instinto natural dos sexos; e nada mais é que um impulso sexual perfeitamente determinado e individualizado. Assim, não perdendo isso de vista, se considerarmos o papel importante que o impulso sexual representa em todas as suas fases e graus, não apenas nas comédias e romances, mas também no mundo real, onde é, junto com o amor pela vida, a mais poderosa e a mais ativa de todas as molas propulsoras, e se pensarmos que absorve continuamente as forças da porção mais jovem da humanidade, que é a finalidade última de quase todo o esforço humano, que exerce influência perturbadora nos negócios mais importantes, que interrompe a todo momento as mais sérias ocupações, que por vezes deixa em confusão os maiores espíritos, que não tem escrúpulo em atrapalhar com suas frivolidades as negociações diplomáticas e os trabalhos do sábios, que chega até a introduzir os seus bilhetinhos meigos e os seus cachinhos de cabelos nas pastas dos ministros e nos manuscritos dos filósofos, urdindo, todos os dias, as piores e mais intrincadas disputas, que rompe as mais preciosas relações, desfaz os mais sólidos laços, torna vítima a vida, às vezes a saúde, riqueza, situação e felicidade, e faz do homem honesto um homem sem honra, do leal um traidor, que parece ser um demônio malfazejo que se empenha em transformar, confundir e destruir tudo - se considerarmos tudo isso, então somos levados a bradar: para que tanto barulho? Para que tanto esforço, violência, angústia e miséria? Pois, em suma, a questão é simplesmente esta: que cada um encontre seu par. Por que semelhante bagatela representa um papel tão importante e leva sem cessar perturbação e discórdia à vida dos homens bem-regrados? Mas, para o investigador sério, o espírito da verdade revela pouco a pouco esta resposta: não se trata de uma insignificância, e, pelo contrário, a importância do assunto é proporcional à seriedade e intensidade dos impulsos. A finalidade última de todo o empreendimento amoroso - derive para o trágico ou para o cômico - é realmente o mais grave e importante entre todos os outros fins da vida humana, merecendo, pois, a profunda seriedade com a qual todos o buscam. Com efeito, essa questão significa nada menos que a composição da próxima geração. As dramatis personae [os atores] que entrarão em cena quando dela sairmos serão assim determinadas, na sua existência e na sua natureza, por essas tão frívolas disputas amorosas. Assim como o ser, a existentia dessas pessoas que virão é condicionada pelo impulso sexual em geral, igualmente a própria natureza do seu caráter, a sua essentia, é condicionada pela escolha individual para a satisfação do amor sexual, ficando assim irrevogavelmente determinada em todos os aspectos. Esta é a chave do problema: conhecê-la-emos melhor quando tivermos percorrido todos os graus do amor, desde a mais fugaz inclinação até a paixão mais veemente, quando então constataremos que a sua diversidade surge do grau da individualização da escolha. [...] Todas as paixões amorosas da geração presente são, portanto, para a humanidade inteira, uma grave meditação sobre a composição da geração futura, da qual, por sua vez, dependem inúmeras outras gerações. Com efeito, não se trata aqui, como nas demais paixões humanas, de uma desgraça ou de uma vantagem individuais, mas da existência e da constituição especial de todo gênero humano futuro; e desse modo, a vontade individual surge como um poder maior, transformando-se em vontade da espécie.
Como disse Diderot, "por trás dos nossos mais sublimes sentimentos e da nossa mais pura ternura há um pouco de testículo". Os românticos de meia-tigela podem esbravejar e protestar de que trata-se de uma visão niilista e fria sobre o amor, essa de Schopenhauer. No entanto, pra mim, é uma das mais belas, quentes e sublimes maneiras de encarar a nós mesmos e a nossos sonhos, desejos, amores e paixões. É de bambear as pernas.
Chego em casa no meio da madrugada, sento ao computador e navego quando, de repente, sou tomado por um súbito mal-estar ao ler uma minúscula parte da Veja.com. Entendam o por quê:
Aqui, uma entrevista com ninguém menos do que Homer J. Simpson para o jornal USA Today. Parte dela está traduzida aqui, no excelente blog Ilustrada no Cinema, da Folha.
A pergunta chave:
Quais são suas posições políticas?
Homer: Tenho um sistema quando voto: Colo da pessoa na cabine ao meu lado. Se estou numa daquelas máquinas eletrônicas de votação, tento marcar a pontuação mais alta. Pode soar estúpido, mas não há como discutir com os resultados: agora temos o mais incrível presidente da história.
Enquanto os republicanos quebram a cabeça para achar alguém que faça frente às candidaturas de Barack Obama ou Hillary Clinton, deixam passar despercebida a opção mais óbvia:
Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim. Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim. Meu mundo é hoje não existe amanhã pra mim Eu sou assim, assim morrerei um dia. Não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia. Tenho pena daqueles que se agaixam até o chão Enganando a si mesmo por dinheiro ou posição Nunca tomei parte desse enorme batalhão, Pois sei que além de flores, nada mais vai no caixão. Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim.
Mesmo sabendo que tal ato de coragem não suscitará especial surpresa em rostos conhecidos - está mais para a audição de frases galvão-buenísticas, como o infame "eu já sabia!" -, tenho de vir a público e dizer que assumo.
Eu sou um nerd. E penso em dar início a uma espécie de ação afirmativa nerd. Por quê não uma bandeira nerd? Por quê não um dia do ano para ser comemorado o Dia do Orgulho Nerd? E por quê não uma Nerd Pride Parade? Vamos mostrar que as minorias - mesmo essa formada de pessoas pálidas de óculos - têm sua força! Um dia, lotaremos a Paulista!
Como todo nerd que se preza, adoro videogames. Sempre gostei. Talvez minha personalidade nerd tenha nascido de uma escolha de meus pais: ganhei um ATARI 2600 de presente aos 5 ou 6 anos de idade. Naquele momento, alguns leques de escolha foram fechados. A partir de então, preferiria movimentar os dedos e grudar o olho na tela a andar de bicicleta ou jogar bola.
No entanto, o mundo definitivamente não era dos nerds nas décadas de 80 e 90 - e, assim, fui desenvolvendo uma certa estratégia de disfarce. Sobrevivência é adaptação, já o pensavam Darwin e Wallace. Então eu deixava de estudar, por exemplo, pois estudar era coisa de nerd. Se fosse muito bem na escola e fizesse todas as lições, todo mundo iria saber que eu era um nerd. E falar que eu ouvia Jean Michel Jarre e Simon & Garfunkel seria como assinar um atestado de nerdismo. Nerd, eu?
Mesmo assim, nunca deixei de jogar videogames. Tive todos os consoles possíveis até o Super Nintendo. (Este legado continua vivo na figura do meu irmão. O rapaz vai ter um PS3, provavelmente). E nunca tive vergonha disso, muito pelo contrário. Anos de experiência sempre me garantiram competência em todo tipo de jogo. Era a minha droga, o lugar de minha afirmação durante boa parte da adolescência.
É óbvio que o ingresso numa faculdade, as mulheres, o álcool y otras cositas más me afastaram dos joysticks por um certo tempo. Como dizia um colega de classe da PUC, "eu jogava RPG, até que um dia eu descobri as mulheres". Meu lado nerd havia adormecido. Até que um dia...
Eu havia deixado a faculdade de Direito para fazer História pensando nas estrelas. E foi no meio desse caminho de volta que reapareceu a gloriosa Blizzard Entertainment, com o lançamento do Warcraft 3. Redescobri os tempos de Diablo, Warcraft 2 e Starcraft. Minha casa passou a ser uma lan house mambembe onde se reuniam pessoas da minha idade, nerds enrustidos como eu, para cantar loas ao mundo dos botões e da tela brilhante. As preocupações diárias estavam mais para montar estratégias e combinações de magias do que decifrar um texto de Michel Foucault. Me redescobri nerd, em todo o esplendor da palavra.
A Blizzard foi a culpada. Essa maldita empresa que lança um mísero jogo a cada dois ou três anos me tentou, ultimamente, com o World of Warcraft. Uma mensalidade em dólares e a possibilidade de perder a vida social me afastaram do WoW. Sei de pobres almas que vivem nessa Matrix com ares de medievo e só saem de lá para confraternizar com os amigos num churrasco. Embora ainda jogue uma ou outra partida de Warcraft 3, estou muito distante dessa dependência toda.
Mas eis que, no decorrer da vida, surgem coisas das quais é impossível desviar. Há pouco tempo, numa madrugada dessas, fui surpreendido por algo inimaginável, que acendeu em mim um brilho há tempos perdido e me faz dormir querendo despertar. A Blizzard vai produzir a sequência de Starcraft. Quero me perder, me lambuzar todo nesse Starcraft 2, me viciar, e por muito tempo. E quero o jogo inteiro, não me contento com versões demo.
Blizzard, eu te amo!
PS: Você, que é nerd, entre no Jovem Nerd e seja feliz. Há tempos, Alottoni e Azaghâl, o Anão, fazem a alegria do mundo nerd.
E deu certo. Segundo o cara que faz a contagem regressiva, foi colocada "uma sala de aula no espaço". As referências à questão abordada no post anterior foram ainda mais óbvias: "Morgan correndo ao espaço sobre as asas de um legado", diz o narrador.
Às vezes eu queria ser um astronauta. Ao infinito e além!
PS: notem que a velocidade do Endeavour chegou fácil, fácil a 5000 milhas por hora (~ 8000 km/h) lá em cima.
Está previsto para amanhã o lançamento da Endeavour, em mais uma missão destinada a continuar a construção da estação espacial internacional. Mas a missão vem ganhando um interesse midiático cujo foco passa longe da ISS e reúne as paixões humanas pelo drama e pela redenção.
Uma professora de ofício está entre os sete astronautas selecionados para a missão: trata-se de Barbara Morgan, 55 anos, 22 deles esperando para embarcar num ônibus espacial. Não são novas as intenções da NASA em enviar um professor de high school para o espaço em troca de atenção e promoção ao programa espacial. E é aí que se desenrola um final típico de filmes com trilha sonora de James Horner: Morgan era a "reserva" de Christa McAuliffe, a infortunada professora que morreu no desastre da Challenger, em 1986.
Um vídeo é particularmente interessante e, por assim dizer, doloroso. Ele mostra o lançamento e posterior tragédia da Challenger sendo observados justamente por Morgan. Há inúmeros vídeos sobre a Challenger no Youtube, incluindo aquele clássico e chocante flagrante da família de Christa reagindo à desintegração da nave. Mas este é o que resume melhor a situação de amanhã. Atenção para alguns detalhes tristes: primeiro, Morgan dizendo, no início do lançamento, "bye Christa, bye crew";notem, mais adiante, que logo depois do centro de controle ordenar que a Challenger suba uma marcha ("go with throttle up") há uma empolgação inicial de Morgan, que logo se transforma em desespero. É o momento em que o ônibus espacial explode espetacularmente. Ninguém entendeu, de imediato, o que estava se passando.
Que o final dessa história seja mesmo uma redenção, dessas lacrimosas, dirigida por James Cameron, com trilha de James Horner a acompanhar uma tremulante bandeira norte-americana e o diabo a quatro. Até mesmo isso seria melhor do que outra tragédia espacial.
O prognóstico já era ótimo: a Ponte nunca havia perdido para o Santa Cruz e vinha de uma goleada sobre o Ipatinga, 5 a 1 (obviamente testemunhada in loco por este escriba). Além disso, o Majestoso contava com a ilustre presença de minha mãe. Esses fatores, somados ao otimista e quase certeiro vaticínio de uma amiga ("hoje vai ser de 7"), só poderiam conspirar para mais uma goleada histórica.
Construir um discurso racional em horas absurdas não é simples. São bravos os leitores que continuam acessando o "Pálido" mesmo depois do blog ter-se tornado um canal para a expressão caótica de minhas pulsões. Apolo está muito longe daqui e, mesmo assim, pessoas que nem mesmo sei quem são continuam a ler o que aqui é publicado.
Não sei o que pode ser interessante nestas frestas de mim. Talvez alguns de vocês se identifiquem com as poesias, com as angústias. A quem me conhece, quem sabe interesse a compreensão do que se passa aqui dentro. Ainda bem. Isso mantém o blog minimamente divertido, pra mim e, espero, também pra vocês.
Você que é pílula vermelha, anti-nacionalista e anti-Globo, clique aqui e leia um feroz texto de Flávio Gomes, o jacobino raivoso, sobre o Pan. Vai, clique lá, vale muito à pena.
E pra você que engoliu esse engodo nacionalista todo, clique aqui e seja feliz.
Como lidar com uma realidade que não aponta para direção nenhuma?
Da Wikipedia:
O Sol é a estrela central do nosso Sistema Planetário Solar. Atualmente, sabe-se que em torno dele gravitam pelo menos 8 planetas, 3 planetas anões, 1600 asteróides, 138 satélites e um grande número de cometas. Sua massa é 333.000 vezes a da Terra e o seu volume 1.400.000 vezes. A distância do nosso planeta ao Sol é de cerca de 150 milhões de quilômetros (ou 1 Unidade Astronômica (UA) aproximadamente). A luz solar demora 8 minutos e 18 segundos (8'18") para chegar na Terra.
Como toda estrela, o Sol é uma esfera gasosa que se encontra em equilíbrio hidrodinâmico entre as duas forças principais que agem dentro dele: para fora a pressão termodinâmica, produto das altas temperaturas internas, e para dentro a força gravitacional.