Não quero parecer pedante. Não quero parecer ter uma cultura que não tenho. Não conheço muito mais sobre música clássica do que algumas coisas que vinham naqueles discos da revista Caras (credo!), Jóias da Música, que minha mãe comprou no começo dos anos 90.
Por exemplo, o título desses posts sobre música é trivial: é o nome de um grande álbum do Queen (assim como o “Um dia nas corridas”). A formação do meu ouvido musical é guiada quase inteiramente pelo rock (ou melhor, por uma parte do que é considerado rock – não conheço quase nada de Beatles, por exemplo). Não sei nada de ópera. Não conheço nenhuma e estou à espera do meu amigo Robson Buck me ensinar a ouvir Carmen de Bizet, que ele diz ser uma maravilha. Se eu ouvir agora, sem qualquer preparo, vou me perder nos primeiros 30 segundos e a experiência não terá muito sentido.
Mas um dia assisti a um vídeo das palestras do maestro e compositor norte-americano Leonard Bernstein, o cara que concebeu os tais “concertos para a juventude”. A apresentação didática de Bernstein sobre o primeiro movimento da Sinfonia 40 de Mozart, explicando a mozarteana ambiguidade entre imaginação cromática e contenção diatônica, estourou meus miolos (essa expressão não funciona muito bem traduzida, né?). Comecei a perceber (ou pensar perceber) sutilezas nessa conhecidíssima e popular peça musical. Graças a Bernstein (e a Norbert Elias e Peter Gay, dois intelectuais peso-pesado que se dedicaram a entender algumas das dimensões sociais e históricas da vida de Mozart), estou começando a realmente desfrutar do prazer de ouvir a beleza nesse tipo de música.
Naquele mesmo vídeo, Leonard explica uma inspiradíssima idéia mozarteana presente no quarto movimento da 40 (a partir dos 8 minutos). No vídeo abaixo, com o quarto movimento sendo conduzido por Karl Böhm, a ideia está na passagem entre 1:51 e 2:01. Nesses 10 segundos, Mozart colocou todas as notas da escala cromática, menos a nota tônica, G ou sol. Bem no meio de um movimento em que tudo parece estar perfeitamente no lugar, Mozart joga um trecho que fica entre o esquisito e o desconfortável. E porque parece assim tão diferente? Pois está faltando algo, justamente a tônica, que daria ordem ao aparente caos. Nossos cérebros sequer precisam de qualquer teoria musical para perceber que está ali um trecho muito diferente do resto. E que torna a experiência ainda mais enriquecedora.
Bom, vou deixar de falar sobre algo que não sei explicar. Fiquem com o delicioso movimento final da 40, pois Mozart explica a si mesmo.
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