18 de março de 2008

O filho das estrelas

A Terra continua a girar, o Sol continua a jorrar calor e luz, indiferentes à morte de Arthur C. Clarke, ou de qualquer outra criatura que teve sua existência cancelada, hoje.




Clarke e Kubrick, os dois criadores da obra-prima do cinema de ficção espacial, são agora fantasmas. Espero que eles nos assombrem por muito, muito tempo, com suas visões poéticas do espaço. Leia, a seguir, a íntegra do prólogo de 2001, escrito a quatro mãos.


Erguem-se trinta fantasmas atrás de cada homem vivo. É esta precisamente a
proporção entre os que ainda vivem e os que já morreram. Cerca de cem bilhões de criaturas humanas já pisaram o planeta Terra desde que o mundo existe.

É um cifra interessante, pois, por coincidência, há aproximadamente cem bilhões de estrelas nesse universo particular, a Via-Láctea. Portanto, para cada homem que viveu corresponde uma estrela em pleno brilho.

Mas cada uma dessas estrelas é um sol, freqüentemente muito mais brilhante e resplandecente do que a pequenina e vizinha estrela a que chamamos o Sol. É em torno de muitos deles, da maioria, talvez, desses sóis desconhecidos, que giram os planetas. É quase certo assim haver no céu terra suficiente para proporcionar a cada membro da espécie humana, incluindo o homem-macaco, o seu paraíso - ou inferno - particular, do tamanho do mundo.

É impossível saber quantos desses paraísos ou infernos em potencial são habitados e por que espécie de criaturas o são. O mais próximo deles está situado um milhão de vezes mais longe que Marte ou Vênus, essas metas ainda remotas para a próxima geração. Mas as barreiras dessa distância desmoronam. Chegará o dia em que haveremos de encontrar entre as estrelas os nossos semelhantes - ou os nossos mestres.

Os homens custaram a enfrentar essa perspectiva. Alguns ainda continuam esperando que ela nunca se torne realidade. Entretanto, cada vez é mais freqüente a pergunta: Não será possível que já tenham acontecido tais encontros, visto nós mesmos estarmos prestes a aventurar-nos ao espaço?

Por que não? Este livro bem pode ser uma resposta para pergunta tão razoável. Mas, por favor, lembrem-se de que é ele apenas ficção.

A verdade, como sempre, será muitíssimo mais estranha.



Como revelou a Folha Online, "em seu aniversário de 90 anos, em 16 de dezembro de 2007, o autor desejou entrar com contato com extraterrestres antes de sua morte". Nós, vivos de agora, ainda temos uma exígua chance. Provavelmente, acabaremos frustrados como Clarke. Talvez, os netos dos netos dos netos encontrem uma resposta definitiva para tal "pergunta tão razoável". Pouquíssimos, porém, foram e serão capazes de imaginar como Clarke o que há nesse enigma chamado espaço. Voou alto, como o "Filho das Estrelas", na parte final de 2001:

"Novamente confiante, como um mergulhador que recupera a calma, lançou-se
através dos anos-luz. A Galáxia escapou da moldura em que ele a enquadrara.
Estrelas e nebulosas ultrapassavam-no numa ilusão de velocidade infinita. Sóis
explodiam e desapareciam enquanto ele deslizava como sombra através de seus
núcleos. A escura poeira cósmica, que certa vez chegara a temer, parecia não
mais que o adejar das asas de um corvo sobre a face do Sol."

Clique aqui para ler um sucinto perfil de Clarke, por Salvador Nogueira, do G1.

Um comentário:

Vanessa disse...

Maravilhoso...

Mais um que por aqui passou,
mais um que deixou seus rastros
E que bela imaginação!

Que olhar para a vida. Aquela visível aos homens, mas também aquela provável

Sem pretenção nenhuma, mas com um egocentrismo tímido e revelado...bem que dos "trinta fantasmas que me seguem", um deles poderia ser Clarke...

De onde você vem?