Rubens Barrichello fez o melhor tempo dos testes com o velotrol da BrawnGP
Sempre torci pelo Barrichello. Nunca deixei de achar que ele era melhor do que Mika Hakkinen ou Jacques Villeneuve, dois campeões da era Schumacher a bordo de foguetes muito melhores que a concorrência. Foi, fácil, o melhor e mais talentoso companheiro de equipe que o alemão teve. Ganhou algumas corridas fantásticas, deu show em algumas outras em que não venceu. A maioria das vezes, se destacou na chuva. A chuva separa os bons dos excelentes.
Quem é aficionado sabe que Rubens Barrichello é um excelente piloto de Fórmula 1. Mas sabe, também, que ele tem a boca mais mole do que pneu de classificação e um péssimo senso estratégico com relação a sua imagem. Não parece ser um cara inteligente. Erra mais fora das pistas do que dentro. Sua lista de erros é extensa.
Quando Senna morreu, o então Rubinho sujeitou-se a carregar a cruz de redentor do povo brasileiro sobre quatro rodas. Sabia que era uma forma de monopolizar a atenção da Globo mídia, buscar patrocinadores fortes, conseguir vaga nas grandes equipes. Só não parecia saber que o risco de o tiro sair pela culatra era enorme. Um piloto esperto, na situação em que Rubens se encontrava (início de carreira numa equipe mediana), jamais aceitaria o peso colossal de sucessor de Senna. Um Piquet pai, por exemplo, despistaria sem deixar dúvidas a responsabilidade de carregar a tocha de um semi-deus morto. Era óbvio que a pressão por resultados iria cobrar a dívida com juros exorbitantes, especialmente quando se promete lutar por vitórias com uma Jordan.
Alguns anos como alvo da chacota nacional não pareceram ter efeito sobre o bocamolismo barrichelliano. Quando foi escolhido, com muita justiça e atraso, para ser o companheiro de Schumacher na Ferrari, Rubens soltou uma de suas maiores pérolas: "não sou o piloto número 2, sou o piloto 1-B". Foram ao todo seis anos à sombra do companheiro de equipe, exceto por um curto período de tempo em 2002 quando, familiarizado com a equipe, pareceu dar mostras de que poderia ser competitivo contra Schumacher. Então, a Ferrari tratou de mostrar ao mundo - numa situação em que qualquer um pegaria o boné, daria tchau e bença - que nº 2 ou nº 1-b, Barrichello estava abaixo na hierarquia de qualquer forma, e assim permaneceria até sair da equipe.
A falta de sensibilidade e cuidado com o que vai-se dizer para jornalistas continuou uma regra na carreira de Rubens. Em 2006, foi buscar novos ares na Honda. Nos testes de inverno, quando ele e Button viraram tempos competitivos e parecia que os japoneses iriam cumprir o projeto de uma equipe vencedora, o boca-mole mais uma vez não aguentou e soltou, para todos os microfones: "estaremos no topo". Como se fosse punição sobrenatural pelo otimismo exacerbado, propagado aos quatro ventos, terminou a temporada na sétima colocação, com 30 pontos, pouco mais da metade do que conseguiu seu companheiro de equipe. Nos dois anos seguintes, amargou o fundo do grid com carros de rendimento bisonho.
A carreira de Barrichello esteve liquidada desde o final do ano passado. Não haveria espaço para ele num grid de Fórmula 1 em 2009, nem na Honda, nem em nenhuma outra equipe. Mas veio a crise econômica. A Honda, que testava Bruno Senna e Lucas di Grassi para o próximo ano - fecharia com o primeiro - saiu de cena em 2008 e foi comprada por Ross Brawn, que trabalhou com Rubens desde os tempos de Ferrari e sabe que, neste momento, a nova equipe precisa mais de um piloto experiente do que de um estreante. Enquanto o mundo quebrou, Rubens ganhou uma sobrevida.
A BrawnGP foi a última a aprontar o carro para a temporada que começa daqui a pouco, dia 29 de março. Carenagem branca, vazia de patrocínios, a sensação ao olhar para as fotos do carro é a do improviso. Mas como diz o outro, o mundo dá voltas, e os melhores tempos dos testes de inverno em Barcelona é, quem diria, da improvisada Brawn. Do dia para a noite, Barrichello deixou de ter que agradecer ao Deus Mercado pelas bagunças que lhe garantiram um lugar no grid para virar um dos mais sérios candidatos a vitórias. Comecei a pensar que não seria nada mal se Rubens tivesse uma temporada verdadeiramente redentora, vencendo algumas corridas, quem sabe lutando pelo título e, por que não, sendo campeão em seu último ano de Fórmula 1. Capacidade ele tem e seria o cala-boca máximo a quem o ridicularizou a carreira toda. Torceria muito por isso. Ontem, Rubens fez o melhor tempo novamente, e disparado. O único senão é que o jogo ainda nem começou. E, claro, depois do susto de quase ter sido aposentado à força espera-se o comedimento, a prudência e a humildade nas declarações de Rubens Barrichello, não é?
Depois do treino, Rubens disse: "Eu sou iluminado, sempre fui iluminado".
Tomara que se lasque.
Um comentário:
É...Tem gente que nasceu cagada, por outro lado, também existem os que só fazem cagadas...Fazer o quê?
Olha, mas devo confessar, essa foto tá perfeita, sem dizer que é cena de um filme fantástico!
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