15 de maio de 2008

Back in the USSR

No altamente recomendável De Rerum Natura, o breve e imperdível perfil de Lev Davidovitch Landau, Nobel de física em 1962, pela crônica do físico luso Carlos Fiolhais. Landau não fugiu do debate político na União Soviética stalinista e foi, claro, preso:

Um socialista inconvencional e iconoclasta, nunca pertenceu ao Partido Comunista. Sofreu na pele em 1938 o que era a prisão no tempo de Estaline. Acusado de escrever um panfleto que chamava fascista ao “Grande Líder” (e, pior, de ser um espião nazi, ele que era judeu e tudo), padeceu um ano às mãos do NKVD (a antecessora do KGB), de onde só foi salvo por intervenção pessoal de um Prémio Nobel da Física, Pyotr Kapitza, junto do todo poderoso chefe da polícia secreta, Lavrentiy Beria. As palavras não seriam dele, embora as idéias o pudessem ser. À semelhança de Galileu, foi um outro Landau quem saiu do cárcere. Até à morte de Estaline (seguida logo pela execução de Beria), não hesitou em trabalhar nos cálculos das bombas de hidrogénio que asseguravam a guerra fria (foi aliás Beria quem supervisionou o projecto soviético da bomba). Era uma espécie de seguro de vida, que lhe garantiu de resto as maiores homenagens da URSS, incluindo dois prémios Estaline e o título de “Herói do Trabalho Socialista”.

Et pur si muove. Documentos secretos do KGB revelados depois da queda da URSS mostraram que Landau, que se considerava um “escravo instruído”, chamou repetidamente, e com todas as letras, fascista a Estaline. Afirmou: “Estou em crer que o nosso regime... é definitivamente fascista e não há um modo simples de o mudar.”

Enquanto seu regime prendia Landau, Stalin dava ouvidos às pataquadas biológicas de Lysenko, jogando no lixo um possível desenvolvimento russo da genética por quase duas décadas e adotando como dogma estatal um tipo de lamarckismo tosco em pleno século XX. De fato, ciência combina mais com democracia.

PS: alguém aí poderia me responder por quê os portugueses escrevem Estaline, Lenine, em vez de Stalin e Lenin?

3 comentários:

Vanessa disse...

Concordo com vós mercê.
Grande problema, pra não dizer uma merda grande, misturar ciência e interesses políticos.

Exatamente o que falavamos sobre Marina Silva, aqui, ontem.
(Ah, sem lacunas...
Falavamos sobre a possibilidade do criacionismo ser aplicado na escola enquanto uma "outra teoria", já que a ex-ministra acredita - e simpatiza com a idéia - que as pessoas devam ter a "escolha". Nesse caso colocando o criacionismo no mesmo plano do evolucionismo.
É o verdadeiro samba do crioulo doido, maluco, varrido. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, ou seja,
teoria científica X mito de criação.
Eu prefiro negar que minha filha "escolha" um mito de criação enquanto opção.
Faço como Zappa, tiro a menina da escola.
Radical? Sim, sou mesmo.


Ah, sobre sua pergunta...Eu juro que não sabia. Pra mim, Lenine era aquele cabeludo bacana, pernambucano e que toca lindas canções. Não é isso?

Sasqua disse...

Deve ser pelo mesmo motivo que eles escrevem "Carlos Marx" e Frederico Engels.

Talvez eles tenham algo contra os comunistas....

Speeder76 disse...

Talvez tenha a ver com o Acordo Ortográfico... e não, sasqua não escrevemos Carlos Marx. É Karl Marx e Friederich Engels.


Quanto ao Carlos Fiolhais... como ex-aluno da Universidade de Coimbra, posso dizer que, apesar de não ser da minha área, tive o prazer de o conhecer, como o dorector da biblioteca da Universidade. É excelente naquilo que escreve, diz e faz, Danilo!

De onde você vem?