9 de maio de 2008

Sempre dá pra piorar

O tempo vai passando, a dor-de-cabeça vai acabando e o vice-campeonato com derrota acachapante na final vai se tornando uma boa preparação para o real desafio da Macaca no ano, voltar à série A. Pensando bem, este paulistão foi o Maio de 68 pontepretano. Levou todos às ruas e acabou derrotado, mas permitiu que o sonho e a esperança continuassem para testemunhar conquistas mais tarde (espero acertar nesta profecia).

Testemunhar o 5 a 0, algo tão chocante e doloroso quanto ver a mãe morrendo ou a amada pulando a cerca, só foi suportável em vista de outras tragédias piores. É aquela coisa: se você está na merda, pense que sempre é possível estar numa merda ainda maior e mais fedida. Vide a reedição do Maracanazo, última cortesia de Joel Santana à torcida flamenguista, e o drama do atleticano Idelber, vítima de um outro 5 a 0 numa final. A sacolada veio justo do Cruzeiro e ainda no ano do centenário do Galo. Num ato de compaixão, fiquei aqui imaginando algo parecido, como o Majestoso lotado para uma final testemunhando uma goleada semelhante do Guarani. Ainda no terceiro gol imaginário eu tive de desistir em prol da integridade do meu sistema cardiovascular. Aliás, quê tragédia poderia superar a da ser, neste exato momento, um torcedor do pobre Bugre, aquele do estádio penhorado que disputa a série C?

Esta estratégia é muito eficaz e revela um traço muito interessante da psiquê humana. Humilhados, tendemos a simpatizar com outros humilhados, mas também não tardamos a espinafrar os que estão ainda mais por baixo. Portanto, não importa o quão macambúzio e melancólico você esteja por causa de um infortúnio qualquer, use a velha tática e seja feliz, pensando que:

- você poderia estar na pele de Rubens Barrichello, que além de ser injustamente perseguido como o bobo-da-corte nacional por mais de uma década, deu a seguinte declaração genial à revista Veja:

Descobri que preciso ser feliz comigo mesmo e não dar satisfação a ninguém. Eu
usava essa filosofia na vida pessoal e no golfe, mas não nas pistas. Antes, era
como se a vida quisesse me mostrar certas coisas e eu não conseguisse enxergar.
Depois de ler
O Segredo (livro de auto-ajuda) e assistir a Quem Somos Nós?
(filme de auto-ajuda), mudei muito. Não acredito mais na sorte. Pensar de
maneira derrotista atrai energias negativas. Essa coisa da energia teve muita
influência sobre mim.

Ótimo piloto, tremendo energúmeno. Mas se você é alguém que deu crédito a esses lixos culturais, ainda há salvação, pois:

- você também pode pensar estar na pele do ridículo José Agripino, tentando atirar na Dilma e acertando o próprio pé, afundando a estratégia de seus aliados e levando o maior esfrega que se tem notícia em Brasília. No entanto, se você acha que o dia da mentira cai em 31 de março e dá o nome de "dossiê" aos dados vazados da Casa Civil, ainda dá para:

- pensar que você poderia estar na pele de Ronaldo, que se envolveu numa situação no mínimo embaraçosa com a senhorita Andréia, quer dizer, com o senhor André Luis Albertino. (Nada contra quem gosta de senhoras com trombas, diga-se). Agora, se você é bugrino, leu e gostou de O Segredo, deu trela pro solipsismo idiota de Quem Somos Nós?, vota na direita e ainda por cima já achou sem querer uma tromba onde ela não deveria estar, então a única salvação é pensar que você poderia estar pegando uma onda em Mianmar.

Parafraseando o glorioso Dr. Pangloss, é melhor pensar que vivemos no menos pior dos mundos.

Um comentário:

Sasqua disse...

Caramba.

Cara, minha vida é ótima! Sinto orgulho dela!

De onde você vem?