Um semáforo qualquer no Botafogo fecha e eu paro o carro. Milhões de inquietações na cabeça convergindo para um único ponto. Mas relaxo, puxo o freio, é um semáforo demorado. Carros passando à frente, pessoas passando, o tempo passando. E à esquerda, alheia ao tempo, uma mulher jovem enfiada numa cadeira, atrás do balcão de uma ourivesaria. Ela parece olhar na minha direção mas não, está olhando pro nada, absorta. Seu rosto denuncia a luta cotidiana incessante. Aparenta uma idade maior do que a que deve ter.
O que será que se passa nela? Será a consciência do tempo não vivido? Um amor perdido? Uma vida deixada pra trás? Ou a vida que se apresenta, pratos e panelas, camisas e calças, a casa, o banheiro, a cozinha, o marido, os filhos, é a cama de quem ela não quer, ou é a cama de quem ela quer?
Em breves segundos, um organismo inteiro absorto.
Então, o semáforo dos pedestres fecha. Abaixo o freio, ela acende um cigarro. Verde, e eu vou embora pra casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário