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"Reinaldo Azevedo é um filho da puta", afirmou, certa vez, um sincero jornalista. Parafraseando-o, comentei que Azevedo era um tonto que escrevia na Veja, para outros tontos. Basta uma olhada no blog do "Rei" (como é chamado por seus fãs) para perceber o quanto isso é verdadeiro.
Por lá, encontramos as asneiras direitóides de praxe: Che foi um assassino cruel, Chávez é um ditador, Lula é um apedeuta, a Folha de São Paulo é um jornal esquerdista, etc. Seu principal alvo, atualmente, é o movimento estudantil da USP. É o seu atual pretexto para soltar o verbo da direita raivosa.
Até aí, tudo bem. Se existe Diogo Mainardi, por quê não Reinaldo Azevedo? Pelo menos, o último parece ter uma formação intelectual decente e é muito menos simplista. O tipo de voz direitóide que representam ganhou um pouco mais de destaque nos últimos anos graças à subida do PT, ou "lulo-petismo", ao poder. À moda de Olavo de Carvalho, constróem seus discursos à base de muita raiva e agressividade. Imitam o velho astrólogo pedinte também na exibição de uma postura de inconformismo e protesto contra um establishment esquerdista ilusório. Estão loucos, babando.
O melhor de tudo é quando percebemos que, por trás da carapaça do inconformismo, escondem-se pelegos cósmicos. No caso de Reinaldo Azevedo, a peleguice e o conformismo revelaram-se através de um texto em que ataca o "antiamericanismo" mundial após a ocupação do Iraque.
Basicamente, Azevedo reconhece que a premissa fundamental da guerra foi uma invenção dos falcões do Pentágono. Reprova o horror da guerra. Condena-a como imoral. Diz ser a pessoa mais delicada quando o assunto é matar uma mísera barata. Mas aceita a guerra do Iraque. Reinaldo Azevedo aceita uma guerra imoral e seus milhares de mortos. E, pior, critica e desqualifica quem não a aceitou e protestou mundo afora.
O que parece incoerente tem a maior das coerências. O argumento é muito lógico. Baseia-se no direito do exercício do poder. Azevedo cita Gibbon, um historiador do século XVIII, para chegar à conclusão de que os impérios devem exercer o seu poder, irrestritamente, afim de levar suas benesses civilizatórias aos bárbaros.
Que os impérios exercerão seu poder, não há dúvidas. E Reinaldo Azevedo não é o primeiro a usar o argumento da força. Durante a guerra do Peloponeso, Atenas massacrou os habitantes da colônia espartana de Milo. Segundo Tucídides, num encontro anterior entre representantes mélios e atenienses, os últimos lançaram uma simples justificativa para sua postura imperialista. "Deveis saber, tanto quanto nós," disseram os atenienses, "que o justo, nas discussões entre os homens só prevalece quando os interesses de ambos os lados são compatíveis, e que os fortes exercem o poder e os fracos se submetem. [...] Em nosso caso, não impusemos esta lei nem fomos os primeiros a aplicar seus preceitos; encontramo-la vigente e ela vigorará para sempre depois de nós; pomo-la em prática, então, convencidos de que vós e os outros, se detentores da mesma força nossa, agirieis da mesma forma."
Depois de constatar, como os atenienses, a lei do mais forte, Azevedo lança uma questão: "uma nação que se negasse a pressionar Kruchev com o fim do mundo, na chamada crise dos mísseis cubanos, ou que se abstivesse de impor sua vontade a Bagdá teria feito o primeiro transplante de coração ou reproduzido, desta feita no éter, as grandes navegações do século XVI?" É óbvio que as conquistas da ciência e da tecnologia estão no mesmo contexto sócio-cultural das conquistas militares. Ambos os campos influenciam-se mutuamente. Seria ingênuo achar que não. Porém, mais ingênuo ainda é Azevedo, que enxerga entre elas uma simplista relação de causalidade necessária. Os norte-americanos podem empurrar sua agenda para acelerar a ida do homem a Marte ou continuar gastando bilhões de dólares no trabalho de mandar seus filhos para morrer e matar pessoas do outro lado do mundo. O jipe Spirit não está, neste exato momento, analisando minérios marcianos por que os Estados Unidos são um império que bombardeou muitos países e matou muita gente.
No caso grego, Atenas, além de centro difusor do pensamento, era também uma potência militar imperialista. Mas, e Esparta? Me desculpe, mas não há notícias de que algo minimamente próximo à produção de conhecimento ateniense tenha existido em Esparta. No entanto, quem ganhou a Guerra do Peloponeso? Não é difícil achar, na história, potências militares que não brilharam tanto quando o assunto era a produção de conhecimento e aprimoramento tecnológico.
Os Estados Unidos exerceram seu poder com justificativas falsas e mergulharam um país no caos de uma guerra civil fratricida. Devemos aceitar passivamente, sem protestos, que tal coisa aconteça? É imoral sentar e apenas constatar que uma lei natural está sendo cumprida.
Reinaldo Azevedo orgulha-se de sua lógica. Tem toda a razão. É uma lógica primorosa. E primorosamente cruel. Hitler saudaria com o braço em riste este inofensivo senhor de chapéu e óculos.
Seguindo na trilha das últimas descobertas sobre Marte, o robô Spirit encontrou, por acaso, fortes evidências de água na cratera Gusev, seu habitat desde que chegou ao planeta vermelho.
Como reporta a Folha, Steve Squyres, um dos líderes da missão que levou dois jipes a Marte em 2004, relatou que "você podia ouvir as pessoas arfando de espanto" com os dados enviados pelo Spirit.
Ah, a sensação de descoberta...
Squyres já falou, também, muito sobre a maneira com que os cientistas estão lidando com inevitável "morte" do Spirit e do Opportunity. Mas isso fica pra outro dia. Por enquanto, fiquem com um site especial das explorações do Spirit.
Créditos da imagem: Caco Galhardo, Folha de São Paulo, 15/05/2007.
Aqui está algo que eu nunca tinha visto: Carl Sagan lendo Pálido Ponto Azul, exatamente a mesma página 31 citada há alguns posts.
Um dia, em que passeava nas proximidades do Castelo, pelo pequeno bosque a que chamavam parque, Cunegundes viu entre as moitas o Doutor Pangloss que estava dando uma lição de física experimental à camareira de sua mãe, moreninha muito bonita e dócil. Como a Senhora Cunegundes tivesse grande inclinação para as ciências, observou, sem respirar, as repetidas experiências de que foi testemunha; viu com toda a clareza a razão suficiente do Doutor, os efeitos e as causas, e regressou toda agitada e pensativa, cheia do desejo de se tornar sábia, e pensando que bem poderia ela ser a razão suficiente do jovem Cândido, o qual também podia ser a sua.
Encontrou Cândido ao voltar para o Castelo, e enrubesceu; Cândido também corou; ela cumprimentou-o com voz entrecortada, e Cândido falou-lhe sem saber o que dizia. No dia seguinte, depois do jantar, Cunegundes e Cândido encontraram-se atrás de um biombo; Cunegundes deixou cair o lenço, Cândido apanhou-o, ela tomou-lhe inocentemente a mão, o jovem beijou inocentemente a mão da moça com uma vivacidade, uma sensibilidade, uma graça toda especial; suas bocas encontraram-se, seus olhos fulguraram, seus joelhos tremeram, suas mãos perderam-se... Ora, o Senhor Barão de Thunder-ten-tronckh passou junto ao biombo e, vendo aquela causa e aquele efeito, correu Cândido do Castelo, a pontapés no traseiro; Cunegundes desmaiou; logo que voltou a si, foi esbofeteada pela Senhora Baronesa; e houve a maior consternação no mais lindo e mais agradável dos Castelos possíveis.
A astronomia e a astronáutica podem ajudar a responder algumas das questões mais profundas que nos atormentam?
Pare. Assista a estes 7 profundos minutos. Assista e pense na sua vida, e em toda vida que pulsa e pulsou neste planeta.
Deveriam mandar filósofos e poetas ao espaço.
Olhem de novo para o ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos, de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “líderes supremos”, todos os santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeira suspenso num raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes.
Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos urna posição privilegiada no Universo, tudo é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.
A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, ao menos em futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Goste-se ou não, no momento a Terra é o nosso posto.
Tem-se dito que a astronomia é uma experiência que forma o caráter e ensina a humildade. Talvez não exista melhor comprovação da loucura das vaidades humanas do que esta distante imagem de nosso mundo minúsculo. Para mim, ela sublinha a responsabilidade de nos relacionarmos mais bondosamente uns com os outros e de preservarmos e amarmos o pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.
Grande Sagan. Há muitos anos, mudou radicalmente minha vida.
Do ponto de vista da platéia. Belíssimo. Aos astronautas que perderam suas vidas, tanto nessa quanto em todas as outras missões espaciais da história, muitíssimo obrigado. São heróis.
A quem, como eu, não suporta qualquer tipo de nacionalismo, favor pular os primeiros segundos.
Ah, sentimento oceânico...